As inscrições para a próxima edição já estão abertas

Projecto Solidário “Felizes para Sempre” oferece em São Miguel boda de casamento a jovens casais açorianos com dificuldades

 Correio dos Açores: - Para além dos projectos solidários, tem um percurso bastante empreendedor. Pode falar um pouco sobre isso?
Joana Corvelo -Tenho 30 anos, sempre sonhei ser arquitecta, mas como na altura não tinha condições financeiras para ir estudar para fora, acabei por tirar o curso de História, na Universidade dos Açores. Entretanto, para me ajudar com os estudos comecei a trabalhar na companhia aérea SATA, mais tarde progredindo para Assistente de Bordo. Exerci também o cargo de professora e, insatisfeita com ambas as profissões, decidi abrir o meu próprio negócio, começando sozinha, totalmente do zero. 
Em 2017 comecei com a primeira das seis empresas que tenho actualmente - a minha empresa de eventosLCE. Além do catering e do espaço que oferecemos, também temos opção de decoração de festas onde eu aplico, na prática, um pouco do meu gosto pelo design e arquitectura de espaços. O meu marido, com o gosto enorme que tem pela fotografia, juntou-se à LCE na realização de trabalhos fotográficos para casamentos e todo o tipo de eventos, após tirar o seu curso numa escola de fotografia no Brasil. 
Com a evolução e crescimento da LCE e da João Melo Fotografia, mais tarde abri o meu primeiro alojamento turístico,  A LC-House. Mas com a pandemia sofremos uma quebra muito grande e eu tive de usar a minha capacidade de resiliência para encontrar soluções. Foi aí que nasceu a Madeirarte, uma empresa de design e construção que oferece todo o tipo de serviços para interiores, como design e serviços de construção de móveis e carpintaria, tectos e paredes em gesso, pintura e impermeabilização, pavimentos e canalização. O meu marido é o empreiteiro e já tem a sua própria equipa de trabalho que actualmente já sente necessidade de a aumentar. Surgiu numa altura em que as pessoas estavam confinadas em casa e sentiam a necessidade de aproveitar aquele tempo para remodelações, ou construção de algo que já estava “guardado na gaveta” há muito tempo. Usei a minha casa, feita por nós, como exemplo na publicidade e a Madeirarte cresceu de tal maneira que hoje é um sucesso no mercado da construção e actua em várias áreas e pontos da ilha. 
Posteriormente, surgiu uma loja de roupa com a qual já sonhava há muito tempo e ainda mais um alojamento local que foi o local da noite de núpcias deste casal vencedor do “Felizes Para Sempre”. Entretanto, já investimos num espaço maior, que será a Quinta das Marias já com data prevista de inauguração e, se Deus quiser, muito mais virá. Porque comigo nem o céu é o limite! Basta acreditar!
O seu pai é a inspiração para a criação anual de um evento solidário. Quem foi ele e o que significa para si poder homenagear a sua memória desta forma? 
O meu pai foi “só” a pessoa mais bonita que já conheci. Cresci com o hábito, ou a tradição, de ter pessoas estranhas na mesa de natal, por norma toxicodependentes ou sem-abrigo, que não tinham ninguém com quem passar aquela noite. O meu pai ia sempre à rua buscar fosse quem fosse. Lembro-me dele chegar a casa descalço porque viu alguém sem sapatos e decidiu dar os seus. Ele era muito altruísta e muito solidário. Foi precisamente num acto altruísta, e precisamente no Natal, que ele faleceu enquanto ajudava os vizinhos a protegerem-se do mar que estava a saltar e entrar na casa das pessoas numa grande tempestade que houve, em 2015, em São Roque. Para mim, homenagear o meu pai significa continuar a seguir os seus passos e ter, pelo menos, só um bocadinho do altruísmo que ele tinha. Ser amiga como ele era, ser honesta, corajosa, lutadora e acima de tudo ser uma pessoa pronta para os outros. Tal como ele era. Todos os Natais crio projectos solidários em sua memória e o “Felizes Para Sempre” é um deles.

Nos anos anteriores que tipo de eventos organizou?
Já organizei jantares de Natal para os sem-abrigo, já criei o “Adote um avô” na altura da Covid, quando os mais velhos ficaram muito sozinhos em casa e sem auxílio de ninguém que lhes fossem ajudar com as compras, ou simplesmente que lhes fossem fazer companhia e conversar um bocadinho com eles. Já sorteei a remodelação de uma casa, já ofereci inúmeros cabazes a famílias carenciadas e já fui mais além e adoptei uma criança. Esse foi, provavelmente, dos primeiros actos solidários que tive depois de adulta. Eu tinha apenas 23 anos e decidi tirar alguém de um futuro que, infelizmente já estava traçado. A história dela era-me familiar porque a vi crescer e quando soube que estava num lar não pensei duas vezes em ajudá-la. A miúda hoje já tem 18 anos e vive nas ruas vendendo o corpo para sustentar vícios de droga e para sobreviver às desgraças que lhe surgem no perigo da noite. Infelizmente não quis aceitar ajuda e quis ela mesma seguir o seu rumo. Ainda me dói muito falar sobre isto, mas sei que fiz tudo o que estava ao meu alcance. Não sei se farei algo semelhante de novo, mas sei que agora, sendo mais velha, se o voltar a fazer será certamente uma decisão mais ponderada. Além de tudo isso sou também dadora de sangue frequente, dadora de medula óssea e dadora de óvulos para mulheres que não conseguem engravidar. Faço tudo de coração e sei que tudo o que Deus me tem reparado na vida é, provavelmente, o meu retorno merecido.
Qual a história por detrás da iniciativa de oferecer um casamento a um casal carenciado?
Juntei o útil ao agradável e, tendo já uma empresa de eventos e uma “tradição” solidária de Natal, foi só juntar 1+1 e criar um projeto que, não só faça alguém feliz, mas que também divulgue as nossas empresas regionais no ramo de eventos. 

Como são seleccionados os casais vencedores? 
Todos os casais que quiseram participar enviaram-nos a sua história e nós decidimos com o coração qual delas nos tocou mais.

Qual era a história do casal vencedor? 
Por respeito aos noivos e à sua identidade e de suas famílias, eu não irei revelar. No entanto, posso dizer-lhe que, se a Ana Paula hoje está viva, foi por milagre! A miúda já sofreu muito e hoje o seu grande refúgio é a escrita. 

Que impacto espera alcançar com este projecto? 
Espero que as pessoas procurem mais o que é “nosso”, o que é açoriano. Porque existem cá profissionais no mundo dos eventos muito bons, com preços competitivos e capazes de fazer deste dia, um dia maravilhoso sem recorrer às compras online ou a profissionais do continente. Para além de toda a publicidade das empresas envolvidas, espero sensibilizar as pessoas para a importância do lado “humano” que cada vez se perde mais na sociedade. Não devemos julgar os outros pelo que vemos, “Quem vê caras não vê corações”! Não devemos também “alimentar” ódio e inveja por quem sempre lutou para conseguir os seus objectivos. Devemos sim apoiar, elogiar, encorajar… Quando desejamos o bem aos outros, o nosso bem vem em dobro. Em quase todos os meus projectos ou conquistas, são mais os estranhos que me aplaudem do que amigos e família que fingem não ver. É preciso cuidado com o que se planta, depois a colheita será obrigatória! Mais amor, mais solidariedade, mais entrega! Menos ódio, menos inveja, menos julgamentos!

O que é que os participantes podem esperar da segunda edição do projecto “Felizes para Sempre”? 
Essa é uma resposta que vai ter que esperar para ver (risos)! Posso adiantar-lhe que queremos ir mais longe. Vamos repetir cá na lha sim, mas talvez não será já numa próxima edição. Na próxima esperam-se “voos mais altos” de forma a quem sabe, chegar a todo o arquipélago. 

Houve parcerias ou colaborações importantes para tornar este evento possível? Pode falar um pouco sobre elas?
Sim, sem dúvida. A Vanity Fair Store é uma loja de vestidos de noiva. Preços bastantes competitivos criada por uma jovem empresária local também muito empreendedora que se disponibilizou de imediato a oferecer o vestido da noiva. Igualmente disponíveis foram os proprietários da Londrina, loja conceituada em Ponta Delgada conhecida por todos nós que, ofereceu o fato ao noivo. Também contamos com a SV Azores, uma empresa que desenha e cria jóias de raíz onde a sua proprietária de imediato concordou em oferecer as alianças. O Hugo Freitas da “HF_hairandmakeup” em parceria com as suas colegas Joana Cabecinha e Carolina Hairstyles, (todos também açorianos e jovens empreendedores) ofereceram o cabelo e maquilhagem da noiva. Também para a noiva contamos com a conceituada Carol Pestanas, uma jovem muito talentosa que tratou da extensão e design de pestanas da noiva bem como com a Mariana Cabral, que lhe tratou das unhas mesmo estando em inicio de carreira sem hesitar colaborar com este projecto. O “Cantinho Doce do Nuno” ofereceu o bolo, outro jovem açoriano muito empreendedor e com grandes projectos de vida em simultâneo, sempre pronto a ajudar. E o Dr. Rui Toledo, da clínica R.Toledo ofereceu tratamento e limpeza de bicarbonato para os dentes da noiva. A todos estes, juntou-se o meu marido como fotógrafo, a nossa “Casa da Bavária”, como alojamento para a noite de núpcias e eu como patrocinadora oficial com a minha LCEvents oferecendo catering e decoração. Na vida tudo funciona desta forma. Em união. A união faz a força! Todos juntos podemos ir longe se soubermos nos apoiar uns aos outros e de facto, sou muito grata por ter tido o apoio destes empresários maravilhosos que não pensaram duas vezes em abraçar comigo este projecto.

Como podem os interessados contribuir para este evento? 
É só entrar em contacto connosco para o email geral@grupojota.pt o que na realidade já está a acontecer. Tenho recebido imensos emails de pessoas que querem contribuir nas próximas edições, e claro, de pessoas que querem participar e concorrer também. Ainda não tive tempo de responder a todos mas serão todos bem-vindos e, assim que possível, darei a todos a devida atenção que merecem.

Qual foi o momento mais marcante desta primeira edição? 
O dia do casamento, sem dúvida! Emocionei-me bastante ao vê-los na igreja.  Foi a sensação de objectivo concluído. Consegui uma vez mais fazer alguém feliz! Ufa! Que sensação boa essa!

Quando arranca a segunda e edição e como é que os casais se podem escrever? 
Este Natal sairá o vídeo promocional com toda a informação necessária.

Tem algo mais a acrescentar?
Sim! Quero apenas deixar a mensagem de que, independentemente da situação que estejam a viver, e por mais difícil que seja, “Sejam felizes”! Estar triste não vai resolver problemas, então ‘bora encará-los de frente com um sorriso no rosto! Feliz Natal.                                      
                                           

“O Hugo apareceu na 
minha vida numa altura em que eu mais precisava”

Correio dos Açores - Podem falar um pouco sobre vós e sobre a história que detrás do vosso namoro? 
Ana Paula - O Hugo apareceu na minha vida numa altura em que eu mais precisava e quando menos esperava. Conhecemo-nos por acaso num pequeno incidente e confesso que foi o melhor acaso da minha vida. 

Como se sentiram ao serem seleccionados?
Foi um misto de emoções, até porque quando decidimos participar tínhamos a certeza que não iríamos ganhar, mas mesmo assim decidimos enviar a história. 
Lembro-me do meu coração começar a palpitar quando recebi o e-mail da Joana a avisar que estávamos entre as 8 pessoas escolhidas e a pedir o meu número de telemóvel, mas mesmo assim continuei a pensar que não iríamos ser escolhidos.  Foi então quando ela ligou por vídeo chamada, para anunciar que éramos os vencedores, que pareceu que o tempo tinha parado por uns segundos e uma onda de alegria invadiu os nossos corações. Eu, como sou uma pessoa mais sensível, comecei a chorar, de alegria claro, porque não estava mesmo a acreditar que tínhamos ganho o concurso. O meu marido também não queria acreditar quando contei que tínhamos ganho, afinal já nem sequer nos lembrávamos que tínhamos participado. Foi mesmo um momento único e que espero que muitos casais possam sentir essa sensação.

Podem compartilhar um pouco da vossa experiência?
Foi uma experiência incrível. Contávamos os dias e as horas para que chegasse ao nosso grande dia. Pensávamos em cada pormenor, porque o mínimo pormenor faz toda a diferença, queríamos que o nosso dia fosse exactamente como sempre sonhamos e que refletisse um pouco sobre o que somos e gostamos. Tivemos cerca de três reuniões com a Joana, onde fomos bem recebidos, que serviram para tirar dúvidas, falar sobre o contrato, regras, etc… quando surgiam dúvidas entrava em contacto via Whatsapp. Os patrocinadores que tivemos contacto foram incríveis, receberam-nos muito bem. Fizemos sempre questão de agradecer e mostrar o quanto estávamos gratos, porque sem eles o projeto não seria possível. Como forma de agradecimento, na Segunda-feira depois do casamento, fomos levar uma lembrança e bolo aos patrocinadores.

Qual o impacto deste projecto nas vossas vidas? 
Quando participámos no projecto, por acaso não sabíamos que iríamos aparecer na televisão ou no jornal, porque se soubesse não teria participado, sou uma pessoa muito reservada assim como o meu marido, gostamos muito de estar no nosso canto e não somos de partilhar a nossa vida com ninguém. Foi estranho ver-nos na televisão, porque agora quando alguém nos vê, comentam que nos viram na televisão, questionam se é verdade a minha história, até chegaram a fazer perguntas à nossa família. Sou uma pessoa que não tem vergonha das marcas que carrego. Cada cicatriz representa um pouco da minha história. Já tapei muitas devido a julgamentos de pessoas desconhecidas e curiosas demais, mas aprendi a amar e a ter orgulho das que ainda estão à vista. Cada um carrega a sua história e as suas marcas, o que faz que sejamos únicos.
Foi só mesmo isso que teve mais “impacto”, porque de resto continuamos a viver as nossas vidas de forma normal.

Quais foram os momentos mais memoráveis desta experiência? 
 Todos os momentos foram memoráveis, se pudéssemos reviver de novo, revivíamos as vezes que fossem possíveis! O dia do casamento é sempre algo memorável e inesquecível, por isso acaba por ser difícil escolher um momento, por isso respondemos: tudo!

Vão estar presentes e continuar o espírito de solidariedade nas edições futuras?
Se pudermos estar presentes iremos estar e se necessário dar os nossos testemunhos aos próximos casais daremos sem problema algum. 

Que conselhos ou mensagem dariam a casais que pensam participar no “Felizes para Sempre” nas edições futuras?
Os conselhos que damos aos futuros casais que participarem são: sejam sinceros ao contar a vossa história, se ganharem é porque mereceram. Sejam sempre muito gratos e aproveitem ao máximo porque passa muito rápido! 

Quer expressar algum agradecimento? 
Queremos agradecer a todos os patrocinadores que participaram neste projeto, Joana Corvelo e Staff , Londrina, Vanity Fair Store, Carol Pestanas, Mariana Cabral, Cantinho do Nuno, João Melo, Dj Hélder, Joana Cabecinhas, Carolina, S.V. Azores e Dr. Toledo.
Também queríamos agradecer à nossa família pois foram muito importantes neste dia e a todos os nossos convidados que estiveram presentes no começo de um capítulo novo das nossas vidas. Um muito obrigada a todos do fundo dos nossos corações!

Daniela Canha 
 

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Autor: CA

Categorias: Regional

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