Debate na Assembleia Legislativa Regional

Governo vai pagar 4,1 milhões de euros à Raynair para promover a Região em 2 rotas internacionais e manter a low cost a voar para os Açores

 O deputado do PS/Açores, Vasco Cordeiro, afirmou ontem, na abertura dos trabalhos do plenário da Assembleia Legislativa Regional, que o Governo Regional actuou, no caso da redução de voos da Ryanair no Inverno para a Região de forma “totalmente alheada do impacto que esta matéria tem na economia da Região, sobretudo da economia das empresas e das famílias açorianas, representando um retrocesso na mobilidade dos açorianos.”
O Presidente do PS/A e líder parlamentar socialista falava no âmbito da interpelação do PS ao Governo Regional (PSD-CDS/PP-PPM, com o apoio da IL e do Chega) sobre transportes aéreos.
 Vasco Cordeiro apontou a forma “arrogante e sobranceiro” como este processo foi tratado e lamentou que o Governo Regional tenha dado nota pública da conclusão das negociações com a Ryanair no final do mês de Agosto, num processo “pouco transparente e sempre com informações escassas e retiradas a ferros”.

A reacção de Berta Cabral

Estas declarações mereceram uma reacção firme de Berta Cabral, Secretária do Turismo, Infra-estruturas e Mobilidade, que informou o Parlamento  que o acordo com a Ryanair para o Inverno foi de 4,2 milhões de euros, 1,8 milhões de euros para promover os Açores em 2024 e 2,3 milhões de euros para promover a Região em 2025.
A governante explicou que, segundo o acordo para dois anos, a Ryanair compromete-se duplicar entre 2024 e 2025 o número de voos de Nuremberga, na Alemanha, para Ponta Delgada, e de Stansced, em Inglaterra, para Ponta Delgada.  
 Berta Cabral começou por sublinhar que o processo negocial com a Ryanair “foi transparente”, rejeitando afirmações do deputado socialista Vasco Cordeiro de “falta de transparência” de “falta de informação atempada” e de “arrogância” do Governo.
A governante disseque, o que aconteceu agora com a Ryanair já aconteceu, no passado, com a saída da EasyJet em 2017 dos Açores durante o Governo socialista e, então, Vasco Cordeiro afirmou que a saída da low cost “era o mercado a funcionar”.

United fica no próximo Verão

“Foi-se embora a easyJet e o que é que o senhor fez na altura para segurar a EasyJet? Afirmou que era o mercado a funcionar. Tenho declarações suas em que considera a saída da easyJet com normalidade. Teve outra situação com a Delta. O que e que fez para segurar a Delta? Nada. Foram a Nova Iorque e não conseguiram que a Delta viesse. E, já agora”, prosseguiu Berta Cabral, “aproveita para informar que a United vai continuar a voar nos Açores no próximo Verão. Por muito que isto vos custe. Porque efectivamente em determinada altura pensei e ainda estou em dúvida que a vontade do PS era mesmo que a Ryanair se fosse embora e que tudo isto não desse certo, mas deu certo”, disse.
Berta Cabral voltou a sublinhar que a posição de princípio da Ryanair “era deixar os Açores. E nós fizemos tudo para que isso não acontecesse. E, portanto, ter atingido o objectivo de a Ryanair se manter nos Açores, fazer um menor número de voos no Inverno (…). Mas, se compararmos, neste período houve uma grande afluência de voos da TAP e da SATA, mas principalmente da TAP que concorreram em preço relativamente à Ryanair. Isto são análises de mercado, não sou eu aqui a fazer de advogado da Ryanair. Temos que analisar o mercado e a TAP chegou a voar a 49 euros para Lisboa incluindo o trolley e a Ryanir a 47 euros sem o trolley. Perdeu mercado pela sua forma de estar no mercado, mas perdeu, efectivamente, mercado. Isto significa que fizemos tudo, conseguimos o objectivo de manter. Temos uma operação de Verão robusta. Temos uma operação de inverno mais adequada àquilo que a Ryanair considera que é o seu espaço de mercado no Inverno. Trata-se de uma empresa privada. Não podemos alterar as suas estratégias, os seus padrões de actividades, aquilo que é a sua visão do mercado e da rentabilidade que pretende obter neste mercado”, afirmou Berta Cabral.
A governante citou algumas alegações  da Ryanair fez para deixar os Açores, e relevou a das taxas de segurança, afirmando que “o Governo da República, através do Ministério das Infraestruturas, “ajudou e resolveu rapidamente a publicação da redução das taxas” em Diário da República.

A questão dos slots em Lisboa

A Secretária do Turismo, Infra-estruturas e Mobilidade aproveitou a oportunidade para salientar que “há uma situação que não se conseguiu ultrapassar que é a dos slots no aeroporto de Lisboa mas esta é uma situação que vamos ter que falar porque, daqui para a frente, vamos ter este problema gravíssimo”, acentuou.
A propósito, deu o exemplo da SATA neste Verão. que queria aumentar o número de lugares para fazer o escoamento dos passageiros. E, não conseguindo e teve que ir buscar um ACMI 777 e um ACMI 767 para, com os mesmos slots, ter aviões maiores e levar mais passageiros. Este é todo um processo que está intrincado com o outro, mas não podemos esquecer, como açorianos, esta questão do aeroporto de Lisboa”, sublinhou
“Tudo isto se passou. Chegamos a bom porto. Temos uma operação que a Ryanair considera que é aquela que é adequada”, reforçou.

…E o turismo a crescer!

Referindo-se ainda a Vasco Cordeiro, questionou: “Em relação à easyJet, sabe-me dizer quantos postos de trabalho se perderam? E como é que tudo se resolveu? Olhe, ficou a SATA, ficou a TAP e ficou a Ryanair, puseram mais voos e, felizmente, continuamos a crescer. Temos crescimentos extraordinários de dormidas de hóspedes”.
“Neste semestre tivemos um crescimento de 18.8% de hóspedes e isso significa, precisamente, que o mercado funciona. Quando alguém sai do mercado há alguém que ocupa este espaço. Isto está provado desde 2017. Quando alguém sai do mercado, se o mercado é apetecível, se o mercado é rentável, alguém aparece. E é esta a situação que se vai colocar”, afirmou.
Berta Cabral realçou que o turismo “continua a crescer, as alternativas são a TAP, a SATA e outros que já manifestaram interesse em saber o que é que se vai passar. A partir daí, estamos, sobretudo, satisfeitos por termos conseguido não o resultado que pretendíamos, mas o melhor resultado possível para manter cá uma companhia de referência que é a companhia que tem a maior rede de distribuição do mundo, a maior rede de promoção do mundo com um site com mais de um bilião de visitas e de 25 milhões de subscritores. E nós continuamos nesta rede e o nome dos Açores continua em todo o mundo a serem promovidos. Este é o principal objectivo”, terminou.

Vasco Cordeiro preocupado

Na sua intervenção inicial, o líder parlamentar socialista, Vasco Cordeiro, afirmou que a redução de voos pela Ryanair no Inverno  despoletou “uma óbvia alteração de condições de acessibilidades aéreas à Região”, com um impacto de “dezenas de milhares de lugares disponíveis de e para a Região”.
Referiu, a propósito, que as empresas açorianas, sobretudo as ligadas ao turismo, precisam de uma “informação clara, precisa, atempada e concreta para o seu planeamento, sobretudo no período de Inverno”, algo que o governo da coligação não está a providenciar.
“Há empresários e parceiros sociais, há uma economia que precisa de saber algo que o Governo Regional ainda não disse: que impacto económico ajuíza o Governo Regional que esta alteração de circunstâncias tem? Quais as medidas que o Governo Regional já tomou ou pretende tomar para aliviar e lidar com esse impacto económico?”, salientou.
Vasco Cordeiro questionou, ainda, o Governo Regional acerca da salvaguarda de postos de trabalho directa ou indirectamente ligados à operação da Ryanair.
“O Governo Regional está distraído. Nós temos a privatização da TAP que está a decorrer. Nós temos a privatização da SATA que está a decorrer numa percentagem que, por opção política do Governo Regional vai de 51% a 85%. Nós temos a redução significativa da operação da Ryanair. Qual é a reflexão que o Governo Regional faz em relação às acessibilidades dos Açores ao continente?”, questionou o Presidente do PS/A.
A conjugação de todos estes factores, privatização da SATA e da TAP e redução brutal da operação da Ryanair, “representa um retrocesso na mobilidade dos açorianos, prejudicando empresas e famílias”, disse.

Bruto da Costa, do PSD/Açores

Por sua vez, o Presidente do Grupo Parlamentar do PSD/A, João Bruto da Costa, considerou que o PS e Vasco Cordeiro “mantêm uma visão retrógrada da mobilidade aérea dos açorianos”, insistindo “na tentativa de fazer esquecer que impediram, durante anos, a liberalização do nosso espaço aéreo”.
O social-democrata referiu que Vasco Cordeiro “esteve duas décadas na bancada do Governo, e estes senhores [do PS], foram os mesmos que impediram a abertura dos Açores ao mundo. Porque, acima de tudo, o PS queria manter tudo na mesma”.
“Senti uma enorme estupefacção, ou até vergonha alheia, ao ver o deputado Vasco Cordeiro, com um ar de líder do futuro dos Açores e de quem sabe o que é melhor para o transporte aéreo da Região, vir agora falar de planeamento, de acessibilidades, de milhares de passageiros e do seu impacto económico”, partilhou Bruto da Costa.
Elencou, na altura, “aqueles que foram alguns dos prejuízos que os governos de Vasco Cordeiro impuseram à Azores Airlines, como Porto/Munique (1,6 milhões de euros), Lisboa/Fortaleza (1 milhão), Funchal/Paris (800 mil euros) e Funchal/Oslo (600 mil). Só estas rotas levaram mais dinheiro aos açorianos do que se vai agora pagar à Ryanair para fazer uma promoção excelente dos Açores em todos os mercados mundiais”, garantiu João Bruto da Costa.

Paulo Estêvão, do PPM

O líder e deputado do PPM, Paulo Estêvão, realçou que, com o acordo foi “possível ter uma operação que mantém uma parte muito significativa do que era a operação da Ryanair em anos anteriores. E isto, sim, é muito importante”.
Em seu entender, “graças ao crescimento da economia dos Açores e graça à aposta de vários operadores que temos hoje na Região, há muito mais empresas estrangeiras a efectuar voos para os Açores. E isso também é importante. Por isso, quando uma delas diminui a sua actividade, estamos muito menos expostos”, afirmou.

António Lima, do BE

 António Lima, do BE, acusou, por sua vez, o Governo Regional de arranjar “subterfúgios” para atribuir subsídios à Ryanair que, num estado de direito, podiam ser classificados como “corrupção”. O BE considera que o acordo alcançado com a companhia aérea low-cost “é vergonhoso e indecente” porque “o povo dos Açores vai pagar 2 milhões de euros por ano para a Ryanair fechar a base de Ponta Delgada, despedir trabalhadores e reduzir o número de voos”.
 
Nuno Barata, do IL

Por sua vez, o deputado do Iniciativa Liberal, Nuno Barata, afirmou que Berta Cabral foi ao Parlamento “justificar, perante os desafios” colocados pelo deputado Vasco Cordeiro, “com uma intervenção no mercado ao mesmo tempo que defendeu o mercado”.
“Eu percebo o mercado. Eu assisti no inverno passado a um avião da Ryanair estacionado permanentemente na placa Sul do aeroporto de Ponta Delgada. Portanto, percebo que a companhia tenha procurado mercado para aquele avião que esteve parado um Inverno inteiro na placa Sul do aeroporto de Ponta Delgada”, disse.
No entender de Nuno Barata, o PSD/A, pelas palavras do seu líder parlamentar, Bruto da Costa, “acaba por dizer que o mercado funciona, mas é preciso intervir no mercado. Nós não acreditamos nisso. Nós acreditamos que o mercado funciona até porque acreditamos numa coisa. Nós acreditamos no potencial dos Açores para atrair companhias aéreas e para atrair mercados. Nós não acreditamos na artificialidade dos mercados. Nós acreditamos nos Açores. Quem não acredita nos Açores é que se vê obrigado a ir pagar a pessoas para vir para aqui. Nós não temos de pagar a ninguém para vir para aqui. Temos é de fazer que nos mercados emissores principais nos conheçam de facto. E isto é que é importante”, afirmou.

José Pacheco, do Chega

O deputado do Chega,  José Pacheco, realçou, por sua vez nos debates, que “não podemos andar em chantagem de promoções malucas que o Governo Regional faz, abanando com dinheiro às companhias aéreas. Devemos promover os Açores como destino de excelência, para que qualquer companhia aérea queira para cá vir”.
No debate, o parlamentar defendeu que o transporte aéreo dos Açores para o exterior não depende única e exclusivamente da Ryanair – “que foi essa a mensagem que passou neste debate” – porque não é efectivamente assim que funciona.
                                                          

J.P.

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Autor: CA

Categorias: Regional

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