1. O fogo. Nos dias que passaram neste último fim de semana, o coração dos fiéis que se aglomeraram no Campo de São Francisco ardeu de emoção e de alegria ao olhar a veneranda Imagem do Senhor Santo Cristo, o Senhor das Ilhas acompanhado nestes dias pelos açorianos espalhados pelas cinco partidas do mundo. Foram umas festas de enorme participação de fiéis e devotos, como há muito não se via, vindos de todo o lado, em ordem a rezarem ao Senhor, em súplica e gratidão por razões que estão bem no íntimo do coração de cada crente. Em segredos e lágrimas que só o Senhor Santo Cristo conhece e que ninguém tem coragem de vaticinar nem de questionar! Como diziam os Discípulos de Emaús ardia-lhes o coração quando depois relatavam a presença e as Palavras de Jesus Ressuscitado! Aqui nestes dias, principalmente no Sábado e no Domingo parece que o coração dos fiéis arde de gratidão, de agradecimento e de súplica ao olhar o Senhor martirizado e coroado pelos Espinhos da esperança que nos acalenta no Senhor Ressuscitado. Foi uma festa coroada de fé, bem organizada e bem vivida em todos os seus momentos e que merece, porque é justo, uma palavra de reconhecido mérito à Irmandade e à Reitoria do Santuário.
2. Mas há razões que a razão desconhece e é sempre mais cómodo falar baixinho e fora dos olhares dos principais atores que promovem estas grandiosas e luminosas festas do que tecer comentários e questionar razões e decisões procurando ir sempre no caminho construtivo. Ninguém é dono de ninguém, nem sequer tem procuração do povo, que se abeira da Igreja que se quer Sinodal, para decidir seja o que for, sem primeiro auscultar e ouvir com atenção e tempo suficiente os cristãos da Comunidade antes de botar a sentença decisória!
Espantou-me deveras a entrevista que o Provedor Carlos Faria e Maia concedeu a este jornal precisamente no Domingo das Festas, ocupando uma página inteira com fotos e gravuras. Pela primeira vez entendi o pensamento do responsável da Irmandade e a missão que a mesma desempenha na organização das procissões e arraiais e afirmou com clareza que no final das festas “vamos apresentar um resumo das contas e informar como decorreram as festividades, o que recebemos e o que pagamos …” Falta agora que a Reitoria tenha o mesmo procedimento de clareza e transparência com a movimentação dos donativos dos devotos do Senhor Santo Cristo, o que é doado e o que é gasto, em quê e as justificações das despesas! Penso que o senhor bispo D. Armando concordará com esta postura.
3. TORREÃO. Na aludida entrevista que o Provedor Faria e Maia concedeu no último Domingo, soube-se que a Mesa da Irmandade deixou as instalações do Torreão, mesmo ao lado do Santuário, que por tradição ocupava há muitos anos, por decisão do senhor Reitor e foram recambiados para instalações junto aos armazéns na avenida Roberto Ivens, mas todos acataram com respeito. Mas parece que tem havido atritos entre a Mesa da Irmandade e o Cónego Adriano Borges e este é um exemplo nada dignificante para a Igreja do Senhor Santo Cristo, que somos todos nós. Uma Igreja que se quer acolhedora, simples e humilde, dialogante e transparente, tolerante e próxima, que não exclui ninguém e que não cria barreiras, mas sim constrói pontes ! Seria aconselhável avaliar tudo preto no branco. Procurar que o Santuário deixe de ser um lugar apenas de culto, de pagamento de promessas, de novenas e tríduos, com um Plano Pastoral exequível, claro e abrangente, afixado e publicitado para conhecimento de todos, não só da cidade e da ilha mas de todos os recantos onde haja um devoto do ECCE HOMO. As obras e os investimentos são importantes mas ainda mais é a resposta atempada à emergência social da Comunidade, sem se sobrepor a nada nem se substituir a outras instituições ou entidades.
4. Estátuas. A Madre Teresa merece o nosso respeito e gratidão pela força espiritual que levou ao culto ao Senhor Santo Cristo. Mais que estátuas e estatuetas Madre Teresa merece orações e súplicas para a sua beatificação, uma ação que deveria começar com todo o ardor na sua terra natal, a Ribeira Brande e depois estender-se a toda a ilha e à Diáspora com a dinâmica participação dos respetivos párocos para que a ação não fique amorfa e requentada! Quem se terá lembrado de levar por diante o projeto de mais uma estatueta da freira do Senhor e de a colocar no adro do Santuário estragando o mesmo e atrofiando o espaço ? Como já escrevi a anterior estátua está muito bem colocada no interior do Convento , com presença e com dignidade. Porquê uma segunda ? Há muitos fiéis que não concordam com aquele malogrado projeto! O próprio Provedor respondeu na sua entrevista que “ se eu pudesse tirava” , acrescentando que “o adro deveria estar limpe-o não devia estar lá nada”. O espaço agora carrega de cera a arder que vai estragar o pavimento secular com flores que seriam para o Senhor Santo Cristo dos Milagres, Esse sim, o Centro de tudo. Há tantos lugares para a colocar : na zona da Roda ou mesmo no Claustro. Oxalá haja bom senso e humildade suficientes para resolver este triste imbróglio!
5. A terminar. Surgiram no Domingo várias lamentações pela não integração na procissão de Bombeiros e Escuteiros, uma velha tradição que os fiéis olhavam com ternura! Até se manifestaram desolados e tristes porque vedaram a sua participação na procissão, por razões que se desconhecem! Tambores sempre os houve e até havia o cuidado de os distanciar um pouco para não interferir com as filarmónicas , isto anos a fio! Aliás, mesmo com menos participações públicas a procissão demorou o mesmo tempo! E a meu ver deveriam ser revistos os critérios de convites. Não deveriam participar no cortejo os Presidentes das Câmaras da ilha, que são mais cinco já que o de PDL já é convidado, um representante das Juntas de Freguesia da ilha, um representante parlamentar de cada força política, o presidente do CESA, da Câmara do Comércio, um representante da Federação Agrícola, o Juiz Presidente da Comarca dos Açores. Pelo menos, e não alongaria o cortejo mas prestigiava a participação cívica. Muitos destes foram envergando a sua opa com dignidade e devoção até porque nem todos vão com espírito de amostragem vaidosa! Tenho dito.
Na quinta feira do Senhor 2023
Eduardo de Medeiros