Escrevo esta crónica a partir da grande metrópole canadiana, a cidade de Toronto, dado que circunstâncias da minha vida familiar me trouxeram até aqui, precisamente por ocasião das festividades em honra do Senhor Santo Cristo dos Milagres.
Por isso, assistir às transmissões diretas da RTP Açores foi para mim muito gratificante, porquanto pude acompanhar as cerimónias ao mesmo tempo que os acontecimentos se desenrolavam em Ponta Delgada.
Contudo, a emoção ao ouvir os acordes do hino do Senhor Santo Cristo foi tão grande e não se consegue por palavras traduzir os sentimentos, sabendo que os nossos estão à distância apenas de um clic, podendo até conversar via whats app.
Apesar das novas tecnologias que nos aproximam, nunca é como estar fisicamente presente no lugar, pois faltaram os cheiros, o ruído próprio e os sabores da festa.
Pela primeira vez, a RTP/Açores mostrou imagens do que aconteceu durante a madrugada do domingo, em que o povo crente, para além de “dormir” com o Senhor Santo Cristo na Igreja de S. José, percorre a ilha a pé, saindo dos mais recônditos lugares, em direção a Ponta Delgada, em romarias organizadas ou simplesmente espontâneas, acompanhados de parentes e amigos, todos com o fito de chegar à cidade e ir visitar a veneranda Imagem ou assistir à missa dos peregrinos.
O Pe. Norberto Brum, sucessor de Monsenhor Agostinho Tavares, encarregou-se de orientar a animação da longa noite, vendo-se a alegria dos que estavam na Igreja de S. José a acompanhar a santa Vigília.
Um momento empolgante da procissão foi sem dúvida a passagem da Imagem junto ao Convento da Graça, que abriga o Conservatório Regional de Ponta Delgada.
Sinceramente, soube a pouco a bonita e arrepiante peça de Nuno Miguel de Almeida, que foi sublimemente interpretada pelos alunos e professores daquela vetusta instituição de ensino da música.
Este ano, a procissão foi muito mais curta, porquanto as representações oficiais ou as instituições não tiveram lugar no cortejo cívico, em que a procissão parece ter deixado de ser da ilha, para ser apenas de Ponta Delgada, até os padres das diversas ouvidorias compareceram em reduzido número e não vi ao menos uma pequena representação, por exemplo, das associações humanitárias dos bombeiros voluntários.
É de felicitar a condução da emissão televisiva, por parte da experiente jornalista Carmo Rodeia, que mostrou que continua ao mais alto nível profissional. Santos Narciso sabe do que fala e nem precisa de reescrever a história para ir descrevendo com grande propriedade o decorrer da procissão.
Os seus conhecimentos histórico-teológicos demonstram todo o seu saber e a sua facilidade de comunicação que prende a atenção dos telespetadores.
Embora longe, estivemos tão perto do coração das festas e o nosso conceito de açorianidade ficou mais uma vez plasmado no alcance das reportagens, sendo a RTP Açores o elo de ligação insubstituível, apesar da proliferação das redes sociais.
Coincidentemente, em Toronto, desde 1966 que se realizam as festas do Senhor Santo Cristo dos Milagres no mesmo dia, na igreja de Santa Maria, embora sem a grandiosidade das de Ponta Delgada, mas vividas com a mesma intensidade de sentimentos, onde milhares de pessoas aproveitam para agradecer ou suplicar ao Senhor dos Senhores remédio para as circunstâncias complicadas da vida, nunca esquecendo Madre Teresa da Anunciada que já é santa nos corações do povo crente açoriano.
António Pedro Costa
PS - Recebi várias mensagens de leitores que concordaram com a minha crónica inserta na edição especial do Senhor Santo Cristo sobre “Minimizar Madre Teresa é não conhecer história desta ilustre figura açoriana”, o que agradeço.