Espaço Monk Surf Shop & Coffee bar em Santa Maria não quer ser mais um negócio, mas um lugar familiar para todos

 A loja física Monk Surf Shop & Coffee bar abriu há um ano em Vila do Porto, na Ilha do Sol, e consiste num espaço que junta loja de surf e de produtos sustentáveis e ainda cafeteria com café orgânico, gelados artesanais, sumos e batidos naturais e refeições vegetarianas feitas com produtos locais e biológicos. Mas o Monk não pretende ser um negócio, mas sim um local para a comunidade, onde qualquer pessoa pode passar tempo num ambiente familiar e zen, com a possibilidade de experimentar café orgânico e comidas saudáveis, adquirir artigos de surf, ponchos e vestuário sustentável de qualidade desenhados pelo Monk.

Correio dos Açores – Em que consiste o conceito do Monk?
Tomers Gendler (Monk) – O conceito do Monk é minimalista, tem a ver com o surf e com um estilo de vida. Monk (monge, em português) pode significar minimalismo e viver apenas com o que é necessário. Para mim basta-me uma mochila com as roupas que preciso e a prancha. Era essa a ideia.

Como surgiu o Monk Surf Shop & Coffee Bar?
Não foi algo que pensamos antes de virmos para cá. Eu era cineasta e fotógrafo. O Monk era uma ideia que eu tinha já há muito tempo e que tentei experimentar de maneiras diferentes. Não funcionou e percebemos que quando se força algo normalmente não funciona e o que funciona é o orgânico. Aqui estávamos sempre no mar, a fazer surf, a limpar as praias, a desenhar jóias, tínhamos um ateliê em casa e acabamos por abrir uma pequena loja em Vila do Porto, porque queríamos estar mais presentes na comunidade. Aqui não havia nenhuma loja para comprar artigos de surf como cera, leashes.
Então pensei em abrir uma pequena loja de surf. A ideia era ser algo local, para os locais. A comunidade de surf aqui é muito pequena. A ideia do negócio surgiu para colmatar algo que faltava. Eu nem a chamaria loja de surf, é apenas um lugar ao qual as pessoas vêm e convivem, podem beber um óptimo café orgânico, um sumo fresco acabado de fazer ou refeições à base de plantas saudáveis. A maioria das pessoas vem apenas para passar tempo. Gostam muito do ambiente. Parece que vens à casa de amigos. Não o vêem como um restaurante.

Também vendem ponchos criados por vocês. Como surgiu a ideia?
Sim. Durante a Covid tivemos de fazer uma pausa e começamos a projectar coisas. Eu estava no mar muito tempo, praticamente todo o dia. Encontrar um bom poncho que fosse confortável, fácil de lavar e que não ganhasse bolor era difícil. Aqui eu não encontrava nada de que gostasse. Porque somos minimalistas, queríamos também algo que fosse intersexo e que tanto eu como a Catherine pudéssemos partilhar, então começamos a desenhar esta peça. Começamos o fabrico, com um tecido feito à mão. Fizemos algumas amostras e começamos a usar e a testá-las. Ainda tenho a minha primeira amostra e ainda está em boa forma, ainda a uso todos os dias. Foi assim que começou. As pessoas gostaram pelo design e qualidade. São feitos para durar, mas não são desportivos.

Estes ponchos são feitos para se usar em qualquer ocasião e por qualquer pessoa?
Sim, exactamente. Há rapazes e raparigas surfistas que vestem ponchos. Há também mulheres mais velhas que os vestem para a praia e pessoas que não têm qualquer interesse no surf. É um artigo para toda a gente. Gostamos desta ideia de inclusão.
Qualquer produto, design, tudo o que se compra para os carros, pranchas, sapatos, para mim, têm de durar o máximo possível. Foi sempre essa a ideia, fazer um produto que durasse, que as pessoas gostassem e pudessem usar em várias ocasiões e partilhar depois com os seus filhos. Costumávamos viajar muito- agora nem tanto- mas quando se viaja é sempre bom ir mais leve, porque é mais sustentável.

São feitos em Santa Maria?
Não, mas vamos começar a fazê-los em Portugal, agora no Verão. Antes não encontrávamos alguém que os fizesse tal como queríamos, por isso estávamos a trabalhar com teares manuais de uma pequena vila na Turquia. A qualidade é fantástica. A razão pela qual vamos começar a fazê-los em Portugal é porque é mais sustentável, com menos transporte e menos desperdício. Queríamos manter a qualidade e agora encontramos uma empresa que os vai fazer como queremos. Conhecíamos este lugar na Turquia que fazia com qualidade e que era sustentável. O único aspecto que não era tão sustentável era o transporte.

Na cafetaria servem bebidas e comida vegetarianas, feitas com produtos locais e frescos?
Sim, queríamos criar um lugar no qual as pessoas pudessem passar um bom tempo e comer refeições ligeiras saudáveis. Não é um restaurante. As pessoas gostam muito. É muito bom e simples. Uma coisa boa em Santa Maria é que agora muita gente está a cultivar a terra: salsa, coentros, couve, beterrabas, cogumelos, de tudo. É muito bom encontrar estes produtos aqui. As pessoas têm de vir para perceber a vibe, o ambiente. É diferente.

O Monk foi a primeira cafeteria de café orgânico em Santa Maria?
Sim, fomos os primeiros, em Santa Maria. Mas não importa muito. Adoro café e tive oportunidade de trabalhar com café em Montreal. Quem prova percebe que o café é mais cremoso. É café que se pode comprar em qualquer lugar, mas é a maneira como o fazemos aqui que é diferente. Damos mais atenção.
É café orgânico porque tem a ver com a maneira como é produzido. Normalmente o café é produzido com muitos pesticidas. A planta do café é muito vulnerável a insectos e doenças, e por isso é normalmente pulverizada com muitos pesticidas. O café orgânico é aquele que não leva pesticidas, ou leva um spray orgânico.

Que balanço faz deste projecto até agora?
Adoro. É um modo de vida. Posso surfar todos os dias. Alguns dias são mais preenchidos que outros. Conhecemos muitas pessoas, essa é a melhor parte. Muitas pessoas interessantes passam por Santa Maria, locais, pessoas do continente ou de São Miguel, mergulhadores, velejadores. Temos muitas conversas interessantes. Já conhecemos pessoas de todo o mundo, até de países que não conhecíamos. Acho que nos Açores, em geral, e também em São Miguel, há muita gente interessante porque passam muitos velejadores, que vêm de todo o mundo. A minha coisa preferida da loja é que agora temos uma grande comunidade de pessoas que conhecemos. Acho que os Açores são muito interessantes porque o turismo ainda é recente e há uma boa energia. Pessoas jovens e mais velhas “partilham a ilha” em conjunto.

Mariana Rovoredo

 

 

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Autor: CA

Categorias: Regional

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