José Manuel Bolieiro pede “reforço orçamental” do Governo da República para combater insucesso escolar nos Açores

O Presidente do Governo Regional dos Açores voltou a destacar a necessidade de o Estado reforçar “os meios financeiros” no sector da Educação.
“As políticas públicas nacionais para o sucesso educativo (…) não podem apenas ser aplicadas ao território continental, têm de olhar o país inteiro. Apesar da nossa autonomia política, a verdade é que o esforço orçamental para o sucesso educativo e para a promoção destas políticas, também tem de ter um esforço do Estado e, por isso, é preciso que o Estado reforce a capacitação das Regiões Autónomas, em particular dos Açores, com mais meios financeiros e orçamentais”, afirmou.
José Manuel Bolieiro, que falava à comunicação social no final da sessão de abertura do seminário “A Educação numa visão de Futuro - O papel da educação na construção de uma sociedade plena de valores e inclusiva”, organizado pela Federação da Associação de Pais e Encarregados de Educação dos Açores, explicou que esse reforço de verbas não pode ficar “à espera de uma futura revisão da Lei de Finanças das Regiões Autónomas”.
Terá de ter como proveniência “uma estratégia nacional e que possa compreender estas realidades tão assimétricas. É do conhecimento nacional quais são os nossos rankings e é preciso ter um projecto, sobretudo de responsabilidade do Estado em financiamento de excepção para estes elementos. Não me cansarei de fazer esta reivindicação”, sublinhou.
Precisamente sobre os rankings que vêm colocando as escolas da Região nos últimos lugares da avaliação nacional, o Presidente do Governo dos Açores começou por destacar a importância de “reconhecer os problemas em vez de os disfarçar e esconder”.
“Identificamos dificuldades e maus resultados, desde logo, nos índices de abandono escolar precoce”, salientou.
Bolieiro referiu depois o trabalho e as políticas que o Governo Regional tem vindo a desenvolver de forma a “potenciar a eliminação dos atrasos que temos nos rankings”.
“Da parte do Governo temos tentado motivar os docentes e os profissionais de educação educativa para a sua estabilização e felicidade enquanto carreiras profissionais e, portanto, capacitando do lado do ensino, desde logo, os principais actores”, realçou.
Na vertente da aprendizagem propriamente dia, continuou o governante, têm sido implementadas “políticas públicas de apoio ao aluno; colocamos a leitura como essencial e estamos a incentivar, com projectos piloto, mas crescentes, a sua aplicação em todas as escolas e em todas as nossas ilhas”.
Para além disso, “estamos a desenvolver o pensamento computacional como uma forma de lógica e de aprendizagem dedutiva, a capacitar, no quadro da transição digital, o acesso à digitalização e, obviamente, a gratuitidade de acesso aos manuais, bem como, a diminuição dos custos para as famílias no que diz respeito à refeição escolar”.
Incentivando os pais e encarregados de educação a um maior envolvimento na comunidade educativa, José Manuel Bolieiro admitiu que os problemas não se resolvem com “uma varinha mágica e não estará tudo resolvido da noite para o dia, mas, em progresso, creio que vamos fazendo um bom caminho”.

Maria do Rosário Figueiredo: “Não podemos avaliar o modelo de ensino com rankings”
Relativamente ao seminário que decorre no anfiteatro da Escola de Enfermagem, em Ponta Delgada, a Presidente da Federação das Associação de Pais e Encarregados de Educação dos Açores revelou que o objectivo deste encontro passa por projectar “uma reflexão de algumas matérias que, ao longo do ano e que também o próprio projecto educativo regional, têm trazido de novo na área da educação, da literacia digital e apresentar também aqui alguns projectos que já se fazem (…) temos de trabalhar numa estratégia única para a inclusão e para uma visão de futuro da escola que pretendemos ter”.
Maria do Rosário Figueiredo admitiu, em declarações ao nosso jornal, ser “uma luta difícil” contrariar os maus resultados alcançados na Educação.
“Se calhar o foco também está muito orientado para rankings e para análises que são feitas de acordo com indicadores que não são a realidade. Não podemos estar a avaliar o sistema ou o modelo de ensino com rankings porque não temos escolas iguais, não temos os mesmos equipamentos, as mesmas equipas e os mesmos projectos”, afirmou.
Por outro lado, a Presidente da Federação considera que “andamos muito focados no acesso ao ensino superior”.
“Não na orientação do aluno, não se ele quer seguir um ensino profissionalizante ou uma outra área. É necessária uma reflexão se realmente andamos aqui a trabalhar para rankings ou para o sucesso e autonomia dos alunos e para uma estratégia comum para uma integração plena destes jovens na sociedade”, sublinhou.
Sobre os actuais programas educativos, Maria do Rosário Figueiredo entende que alguns deles são “muito extensos” e desactualizados face aos tempos presentes.
“Ainda se mantêm muito em décadas passadas e, no entanto, estamos a entrar numa transicção digital, temos uma sociedade cada vez mais desperta para outros temas e problemáticas”, referiu.
Outro dos problemas apontados pela representante dos pais e encarregados de educação dos Açores prende-se igualmente “com cargas horárias extensas”.
Maria do Rosário Figueiredo elegeu também como “grande desafio” o envolvimento das famílias no sistema educativo.
“A maioria do insucesso escolar está integrado nas famílias com menos recursos e menos literacia. Se queremos atingir o sucesso temos de trabalhar estas famílias num todo (…) com equipas multidisciplinares dentro da escola que possam trabalhar em conjunto a família (…) Uma inclusão do social, do cultural e melhorar aqui as condições de apoio nessas famílias, não só para que tenham um resultado na escola, mas para que se sintam motivadas e procurem, elas mesmas, esse sucesso e essa autonomia”, realçou.
                                             

Luís Lobão     

 

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Autor: CA

Categorias: Regional

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