Vanessa Esteves tem 37 anos e apesar de ter nascido em Lisboa considera-se mariense. A Vavi, um negócio de confecção de peças à medida com a inovação de modelagem personalizada nasceu do gosto de Vanessa pela costura, que já vem de longa data. A determinada altura da sua vida, conta a modista, por fazer formações de costura locais, até que sentiu que precisava de saber mais e de aperfeiçoar a técnica, pelo que decidiu fazer um curso de corte, confecção e modelagem. Corria o ano de 2018 quando Vanessa terminou a formação, que incluiu um misto de sessões online e presenciais, com lugar no continente. Em Novembro do mesmo ano dá-se o arranque inicial da marca Vavi, com os laços de cerimónia para homem e criança, o primeiro produto que Vanessa começou por confeccionar e expor nas redes sociais, por considerar que “tinha de começar a levar ao público e mostrar aquilo que gostava de fazer.”
A escolha do nome tem um motivo especial. Vavi é como lhe chamam os amigos mais chegados e é assim que Vanessa é conhecida por toda a ilha de Santa Maria. Quando criou a sua marca, não queria que esta fosse explicitamente o seu nome e então entendeu que Vavi era a opção certa, por fazer parte da sua identidade.
Até passar de um negócio a tempo parcial para um negócio a tempo inteiro, passaram-se quase quatro anos. Após cerca de dois anos de reflexão, em Janeiro de 2022, a modista decidiu dedicar-se a tempo inteiro ao seu ofício, tendo um ateliê montado na Incubadora de Empresas de Santa Maria: “Estive dois anos a moer esta situação. Primeiro, comecei a pensar na possibilidade e, depois, o facto de ter aberto a Incubadora de Empresas em Santa Maria foi o que me deu mais coragem, pelo suporte que eles oferecem. É fantástico ter um espaço aberto ao público em que primeiramente não existem quaisquer despesas e, posteriormente, só temos as despesas normais com o contrato, que são sempre valores muito acessíveis para que a pessoa possa testar o seu negócio. Foi esta possibilidade que me deu o clique final”, explica.
Em termos familiares, Vanessa afirma que o marido sempre a apoiou e o que o facto de ter dois filhos pequenos pesou fortemente na sua decisão de montar um negócio por sua conta. Como não podia deixar de ser, o aspecto financeiro foi tido em conta. “Eu e o meu marido organizámo-nos e já sabíamos que, quando se abre um negócio por conta própria, existem sacrifícios a serem feitos, desde monetários à família”, refere.
No entanto, confessa que actualmente consegue ter mais tempo para estar com os seus filhos, na medida em que faz a gestão do seu horário e consegue articular com o deles, podendo “ir levá-los ou buscá-los à escola mais cedo ou mais tarde.”
E prossegue: “Ao fim de 18 anos, ganhei fins-de-semana em casa. Quando os meus filhos começaram a entrar para a escola foi complicado, porque estavam em casa aos fins-de-semana e eu raramente estava. Esta foi mais uma moedinha para a caixinha da decisão. No fundo, foi tudo dando força àquilo que eu desejava fazer. Além disso, temos de ser optimistas, acreditar que somos capazes e que vai dar tudo certo.”
Laços, lenços, ganchos para o cabelo, fitas, máscaras faciais protectoras, brincos, toalhas de praia, fatos de banho, vestidos e outras peças de vestuário, feitas de raiz ou através do aproveitamento de outras peças, são exemplos de artigos confeccionados por Vanessa Esteves.
Recentemente, surgiu um gancho novo ao qual intitulou de “ganchie”, com a ajuda das suas seguidoras da rede social Instagram, por ser um pack constituído por uns scrunchies e um gancho. A criadora da marca Vavi conta que vai observando e se vai adaptando ao que o mercado pede. No próximo Verão vai fazer o lançamento da sua primeira colecção de fatos de banho, tendo em conta que fez uma formação específica em swimwear. Além dos acessórios de homem e senhora, a confecciona peças para todo o tipo de eventos, desde baptizados a casamentos e oferece um serviço por medida personalizado.
Como sempre foi a “mulher dos sete ofícios”, Vanessa iniciou este mês um Clube de Costura, onde dá aulas de costura e também faz workshops temáticos. Relata que a adesão tem sido muito boa, e que o objectivo do clube passa por reparar e transformar roupa usada em peças úteis, dando-lhes uma nova vida.
A modista descreve-se como sendo “muito folclórica”, tendo em conta que lhe apraz misturar cores e sente-se atraída pelo que lhe “parece mais colorido”. Confessa que, para criar as suas peças, se inspira “muito nos anos 80. É uma linha que me atrai. As linhas rectas e simples atraem-me muito”, partilha.
No que toca a pedidos específicos, apesar de ir ao encontro do que a cliente quer, coloca sempre o seu cunho pessoal na peça.
Vanessa tem feito a divulgação do seu trabalho através das redes sociais, Instagram e Facebook, assim como presencialmente, estando inscrita no artesanato e participando em feiras e mercadinhos, apenas em Santa Maria, até à data.
Embora a criadora da Vavi tenha mantido os pés assentes em Santa Maria, alguns dos seus artigos seguiram viagem para outros locais, inclusive para fora dos Açores. Na altura da pandemia, chegou a vender máscaras de protecção para a Suíça e para o Reino Unido, por ter pessoas conhecidas nesses países que foram espalhando a mensagem. Igualmente através de contactos da sua “ilha natal”, já seguiram alguns laços para os Estados Unidos.
Apesar de a maioria da sua clientela ser de Santa Maria, acaba por ter clientes noutros locais do arquipélago, maioritariamente “marienses que vivem nas outras ilhas há muitos anos e não perdem uma. Quando vêm a Santa Maria gostam sempre de ir ver as novidades. Tenho tido muita atenção e muito carinho de todos”, realça.
O seu ateliê é, sobretudo, uma oficina de trabalho, mas acaba por ser uma loja onde Vanessa vende os produtos que estão finalizados. Além deste local, podem encontra-se os seus artigos à venda em outros espaços da ilha.
Relativamente à evolução da Vavi desde a sua criação, adianta que esta “tem sido uma evolução constante e estou satisfeita com as luzes que me têm dado. Tem corrido bem e estou feliz por não estar, de todo, estagnada. As coisas têm surgido ao seu ritmo”.
Em termos de vendas, a modista afirma estar satisfeita, embora sejam “sazonais e há meses em que as coisas saem melhor do que outros, dependendo do serviço.” E continua: “O lucro nos primeiros três meses é um pouco relativo, porque existe muito investimento em máquinas, material, matéria-prima, mas é uma questão de jogo de cintura. Faz tudo parte do processo. Não podemos querer grandes lucros imediatamente no primeiro mês ou no primeiro ano.”
O contacto com as pessoas é um dos pontos altos do negócio de Vanessa, que destaca “o momento em que disponibilizamos, uns aos outros, a troca de ideias, assim como a criação de peças, as próprias aulas de costura, enfim, esta convivência enche-me a alma.”
Quanto ao futuro da Vavi, sonha em ter o seu “espaço físico, fora da Incubadora, noutro local da ilha”, assim como “vendas superiores às deste ano.” No fundo, pretende “crescer sempre mais um bocadinho” e “continuar a ser feliz a fazer aquilo que gosto e a dar felicidade aos outros, pois o que me fascina é as pessoas saírem de lá satisfeitas”, conclui.
Carlota Pimentel