Professora de dança preserva o crochê nos Açores com o projecto “d’Avó Maria”

 “d´Avó Maria” é o projecto de bonecos de crochê de Maria João Albuquerque, jovem de 28 anos da ilha do Faial, que utiliza a técnica amigurumi, uma abordagem moderna ao crochê. Amigurumi significa “bonecos de peluche” e surgiu no Japão, na década de 80. No entanto, só nos últimos anos começou a ser mais conhecida em Portugal. Em criança, Maria João, professora de ballet e dança contemporânea, via as suas avós a fazer crochê, mas só adquiriu este gosto na pandemia. Quando começou a partilhar o seu trabalho, pretendia apenas mostrar o que fazia, mas a verdade é que os pedidos personalizados têm aparecido, e de vários lugares. Para além desse gosto, Maria João fala ainda sobre os projectos de dança que tem desenvolvido no Faial e no Pico.
Maria João Albuquerque recebeu o mesmo primeiro nome das suas duas avós, que se chamavam Maria da Conceição (materna) e Maria Manuela (paterna). Ambas faziam crochê ou renda. Daí surgiu o nome do projecto: “d´Avó Maria”, da Maria João. A professora de dança e ballet e artesã recorda-se de ver a avó a fazer renda, toalhas para o enxoval dos netos, entre muitas outras coisas. Apesar de lhe terem tentado incentivar este gosto, Maria preferia a dança, a que se dedica desde os cinco anos.
Foi na pandemia que Maria João teve mais tempo para explorar novas actividades e passatempos.  Aí surgiu a sua paixão pelo crochê, mas foi preciso começar do zero. Em Novembro de 2021 fez uma formação online para adquirir as bases, e a partir daí foi “experimentado e explorando as receitas”. “O amigurumi é uma técnica que já existe há muito tempo, mas só agora é mais falada por aqui. É uma técnica que nasceu no Japão e agora começa a ser uma coisa mais vista por cá e que nós intitulamos também de crochê moderno”, explica Maria João.
Explica que quando começou a partilhar o seu trabalho nas redes sociais não tinha expectativa de vender ou que o projecto se tornasse muito conhecido, sendo que só pretendia mostrar o trabalho que fazia nos seus tempos livres. Mas a verdade é que as pessoas notaram o seu trabalho e começaram a fazer pedidos especiais.
“Inicialmente eram mais pessoas do Faial e Pico, agora já tenho algumas encomendas do continente. Tive também uma encomenda de Londres. Portanto já começa a expandir-se mais.” Lembra alguns pedidos específicos que já realizou. Conta que já teve um pedido de uma geóloga que queria uma miniatura sua em crochê. Maria inspirou-se nas características da pessoa para fazer o boneco, criando algo único que não é encontrado em mais nenhum lugar. Professores de capoeira já pediram também miniaturas suas. Muitos outros pedidos são à base de coisas para bebés. “Quando me pedem algo específico faço sempre uma pesquisa para saber qual o melhor material, o que é que a pessoa quer exactamente. Vou criando aquilo que me pedem.”
A artesã explica que a dimensão do boneco não dita a complexidade e o tempo que o trabalho demorará a realizar. “Às vezes há trabalhos mais pequenos que levam mais tempo, porque são mais minuciosos. Tem a ver com a técnica que vou ter de usar no boneco e os seus pormenores.”

O crochê também é para novos
No Centro de Artesanato do Capelo, Maria João expõe também o seu trabalho e conta que houve a necessidade de criar “lembranças”, que os turistas procuram, de aspectos relacionados com os Açores. Assim, começou a fazer também porta-chaves e peluches de vários tamanhos de baleias e vacas, por exemplo.
O crochê, bem como outros trabalhos que utilizam tecidos para criar objectos parece não estar na moda, especialmente entre as camadas mais jovens. No entanto, nos últimos anos têm surgido várias pessoas que mostram os seus trabalhos, nomeadamente de amigurumi, na internet. São vários os vídeos, receitas e tutoriais para se aprender este tipo de crochê do zero.
Maria João é prova de que esta herança ainda não morreu. “Acho que hoje em dia, crochê e tricô são coisas que as crianças não têm hábito de fazer. Agora há muita tecnologia e isso vai se perdendo. É pena”, lamenta. Mas a verdade é que no Natal, conta, teve oportunidade de fazer um workshop de crochê: “Tive lá bastantes crianças e foi engraçado. Mas sim, sinto que vai se perdendo um bocado e que na cabeça dos mais jovens o crochê é para velhos”.


Professora de dança que dedica
o seu tempo livre ao crochê
Maria João começou a fazer ballet aos cinco anos. Após os estudos secundários, decidiu seguir a sua paixão, e assim foi, tendo-se licenciado em Dança, na Escola Superior de Dança, de Lisboa. Tirou depois após-graduação em Dança na Comunidade e está neste momento a aprofundar ainda mais o seu conhecimento na área e a frequentar o mestrado de Ensino em Dança. A professora de dança refere que “sempre quis voltar para os Açores. Nunca quis ficar em Lisboa a trabalhar”.
No Faial e no Pico, dá aulas de ballet, dança contemporânea e ginástica rítmica, sendo que os grupos que coordena são presença assídua nos eventos ligados à dança que são dinamizados nas ilhas do canal. “Agora dou aulas de ballet e dança contemporânea no Faial e no Pico, que me ocupa bastante-tempo - Segunda-feira a Sábado. O crochê vai se encaixando”, conta. Actualmente dá aulas de ballet e dança contemporânea no Centro de Formação Artística da Madalena e no Centro de Artes da Associação Cultural de São Roque do Pico. No Faial, têm o seu próprio projecto, e dá aulas particulares: “Já tenho um bom grupo de alunos e tenho o meu espaço.                                    

Mariana Rovoredo

 

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Autor: CA

Categorias: Regional

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