Ouvindo populares, comerciantes e o padre Nuno Maiato

“Feteiras, uma freguesia parada no tempo!”

 Para vários moradores, a freguesia das Feteiras tem estado esquecida, abandonada à sua sorte e parada no tempo. As obras da grota por concluir, a Piscina natural, situada junto ao Porto dos Batéis, desactivada e a necessitar de obras, o campo de futebol degradado, que se assemelha a um pasto, onde se pratica paintball, a falta de parques de estacionamento, entre outros, são alguns dos problemas enumerados pelos habitantes das Feteiras.   

Passado um ano e três meses das enxurradas ocorridas na freguesia, em que a chuva e a terra arrastaram pedregulhos e carros pondo em risco habitações e pessoas, quando se chega à rua mais afectada, observa-se que ainda há muito que fazer. As obras estão paradas. Pedras entulhadas no chão, cobertas com fitas laranjas, ferros expostos e rampas provisórias, feitas de madeira, que servem de acesso a algumas moradias é o cenário que salta à vista. 
Herculano Sousa Leonardo, de 74 anos, nascido e criado nas Feteiras, é um dos moradores que viu a sua casa afectada pela catástrofe. O lavrador reformado afirma que pouco foi feito desde o dia da enxurrada e que são mais as promessas do que as acções. Herculano conta que nada mais fizeram do que montar uma rampa provisória que passa por cima da ribeira e permite o acesso à sua habitação, assim como levantar uns muros para vedar a sua moradia e limitar o acesso à ribeira, dado que a sua esposa “não vê e podia cair”.
Por sua vez, Carlos Craveiro, de 65 anos, outrora pedreiro, é igualmente morador e recorda que teve bastante prejuízo com as enxurradas, designadamente ambos os carros destruídos e o seu quintal devastado. Apesar de ter recebido 75% do valor das suas viaturas e de o seguro lhe ter pago os prejuízos que teve com os portões e o quintal em geral, Carlos Craveiro refere que a obra está parada há um ano e três meses, adiantando que “o que foi feito são soluções provisórias que parecem definitivas.” Segundo ele, para fazer o parque de automóveis em frente à escola, de cariz temporário, a Câmara Municipal utilizou “paletes de madeira desmanchadas, forradas com plástico, meia dúzia de varas de ferro e um caminhão de betão para cima”. Quanto ao muro levantado na casa do seu vizinho Herculano Leonardo, Carlos Craveiro realça que levaram três semanas para construir “um bocadinho de muro”, quando no seu tempo ficava concluído “em dois ou três dias de trabalho.” 
O pedreiro reformado conta que, sempre que há chuvas com mais intensidade, o sentimento de insegurança está presente entre os moradores que têm o cuidado de tirar os carros da rua. Além disso, Carlos Craveiro declara que “quando chove, vem água verde pela rua abaixo, com porcaria de vaca” o que classifica como “extremamente desagradável. ”
 
Comércio está a vender menos
Célia Mendonça, natural da freguesia, é funcionária do Super com Vida, um minimercado local, há cerca de 15 anos e está a sentir a crise. “As pessoas compram menos, reduzem mais, só levam mesmo o que é necessário”, afirma. 
Em lugares domo as Feteiras não se pode especular nos preços. Pelo contrário, como explica a comerciante, “a margem é reduzida. Não dá para pôr uma margem grande como antes, porque se aumentamos muito o preço, as pessoas não compram, além de que comparam mais os preços e olham ao mais barato”. 
Como afirma Célia Mendonça, a situação “está pior do que no tempo da pandemia, porque apesar de os preços terem aumentado as vendas continuaram e, agora, temos tido uma quebra nas vendas. A vida está difícil”, reforçou.
E Célia Mendonça fala também das Feteiras: “Há falta de parques, precisamos muito de parques de estacionamento. Tínhamos o futsal. Temos miúdos que jogam futsal e têm que ir para a Candelária, porque não temos um pavilhão desportivo nas Feteiras. As piscinas já estão assim destruídas há anos, já se esqueceram das piscinas….”
E sobre os prejuízos dos temporais, tem uma opinião muito esclarecedora: “Dizem que vão ajudar as pessoas, alguns ainda estão em casa dos sogros e não ajudam nada.”
Já Maria Filomena Medeiros paga uma renda pelo café que explora. E, como afirma, “o negócio está muito fraco, não aparece muita gente. Ao fim-de-semana aparecem mais clientes mas muito poucos, comparando com o que era. Desde a pandemia nunca mais foi igual”. 
E, prosseguiu, “a subida dos preços dos bens e o aumento do custo de vida contribui muito para a diminuição de clientes. Há uma diferença muito grande. O ordenado é sempre o mesmo, as coisas aumentam, o ordenado não aumenta. Moro nas Feteiras há muitos anos”, completou.

Padre Maiato e as queixas
dos paroquianos
O padre Nuno Maiato, pároco da freguesia há um ano e meio, ainda se está a integrar. “Estou a descobrir a freguesia e as pessoas. Um ano e meio apesar de tudo não é muito tempo”.
Afirma que as Feteiras é uma freguesia “com muitos potenciais, uma vez que grande parte da sua população é jovem. Sinto que também as Feteiras estão num período de alguma mudança nas suas instituições e na sua liderança. Isto deixa-me alguma esperança em relação a projectos que são necessários realizar nesta comunidade”. 
“Penso que esta mudança que está a ocorrer, nos últimos anos, nas lideranças das principais instituições, vai trazer benefícios e uma nova luta e dinâmica àquilo que é desejado pela freguesia”, refere.
Afirma que “não se pode comparar friamente” as freguesias. E explica que se a freguesia da Candelária tem um pavilhão multiusos, a das Feteiras tem três salões da irmandade do Espírito Santo, o que dá uma dinâmica à freguesia que não é fácil encontrar noutras freguesias”. 
“Pelo que ouço das pessoas, há algumas obras pelas quais se anseiam, nomeadamente as das piscinas que é algo que precisa de uma solução. Tendo a Junta de Freguesia uma liderança recente, um novo pároco que é sempre um contributo, prevendo-se uma renovação na direcção da Casa do Povo que são as três instituições maiores da freguesia, quero acreditar que isto dará um novo alento àquilo que são as necessidades da freguesia”, declarou o padre com algum optimismo.
Padre Nuno Maiato confere que há instituições nas Feteiras que, devido ao aumento do custo de vida, “são mais procuradas pela comunidade e que prestam também um apoio às pessoas que estão em maiores dificuldades”. 

Cáritas vai chegar às Feteiras
Como refere o padre, este é um “drama transversal a todo o país. Além das instituições, cada um de nós, dentro das suas possibilidades, deverá ajudar aqueles que estão mais próximos. Esta não é a solução, mas é algo importante. O apoio na vizinhança e na família não retiram a responsabilidade a quem socialmente deve ajudar, mas vai permitindo algum conforto a quem está mais aflito neste momento”, completa.
 Anuncia que a paróquia tem como intenção “organizar-se para responder a estes desafios sociais, nomeadamente estamos a trabalhar para a criação de um núcleo social da Cáritas para podermos articular com outras instituições e fazermos um trabalho silencioso que às vezes não é possível ser feito pelas instituições que estão no terreno. Queremos ser um complemento ao que já é feito e temos esperança de que durante este ano vamos conseguir constituir este núcleo de Cáritas para ajudar nestas situações”.

 Carlota Pimentel

Print
Autor: CA

Categorias: Regional

Tags:

Theme picker