14 de março de 2023

Opinião

Finalmente


O povo açoriano, bem como todos os devotos, têm finalmente uma esperança renovada de que a causa de beatificação de Madre Teresa da Anunciada poderá avançar, após o compasso de espera no bispado de D. João Lavrador, porque entendia, certamente por desconhecimento, que a Freira do Senhor Santo Cristo constituía um fenómeno religioso apenas circunscrito a S. Miguel. Verdade seja dita que o clero açoriano deixou cair os braços e muito pouco fez para que esta tese fosse devida e historicamente desmontada.
Tais considerações vêm a propósito da abertura das celebrações dos 365 anos do nascimento de Madre Teresa da Anunciada, que teve lugar no Convento da Esperança, onde foi descerrada uma nova estátua, desta feita no adro do Santuário, de autoria de Alda Raposo. Esperamos, sinceramente que tais comemorações sejam um bom prenúncio e o verdadeiro sinal de que o processo de beatificação terá o rumo certo.
Registo com muita satisfação o facto de que o Reitor do Santuário do Senhor Santo Cristo, Cónego Adriano Borges ter tido a ousadia de, na ocasião, pedir a D. Armando Domingues, o novo Prelado de Angra, para nomear a Comissão histórica, a quem competirá elaborar a justificação factual tão necessária para o avanço da causa e para que assim, após a provação pela Conferência Episcopal Portuguesa, o processo possa chegar à Congregação da Causa dos Santos e não se perca nos corredores do Vaticano, como já aconteceu aos outros 2 processos que, incompreensivelmente, desapareceram  e, confirmadas as suas virtudes heróicas, Madre Teresa da Anunciada possa ser de novo considerada como Venerável. 
Importante será também a nomeação da Comissão Teológica e do Postulador para esta causa, para que aquela que deu início à devoção ao Senhor Santo Cristo seja elevada aos altares. Como se sabe ela já é para os açorianos Santa, cujo maior milagre é o culto secular mundial que é prestado ao Santo Cristo dos Milagres, o Príncipe dos Açores.
O povo açoriano tem fundadas expectativas que o novo Bispo abrevie a beatificação daquela distinta clarissa que não só promoveu o culto ao Senhor Santo Cristo, como através da sua intercessão muitos prodígios ocorreram, o que mostra que Deus foi muito generoso para com a Madre Teresa. É verdade que as regras canónicas são outras, mas a Conferência Episcopal Portuguesa já se tinha pronunciado no tempo de D. Aurélio, conferindo a Madre Teresa da Anunciada o título de Venerável.
Ela nasceu no dia 25 de novembro, de 1658, tendo sido no mesmo dia batizada, na freguesia S. Pedro da Ribeira Seca, destacando-se hoje como uma figura tão devotamente acarinhada pelo povo micaelense. 
“Ela já é santa, só falta que a igreja o reconheça”, disse o Pe. Agostinho Pinto no seu livro “Madre Teresa da Anunciada - Autobiografia e perfil espiritual. Ponta Delgada, 2012”, acrescentando que antes “não apreciava a Madre Teresa porque tinha dela a ideia de uma religiosa da piedade” mas à medida que foi lendo os seus escritos e os foi decifrando, deparou-se com uma “mulher de fibra, vigorosa e assertiva”.
D. Aurélio Granada Escudeiro, foi um grande impulsionador do culto ao Senhor Santo Cristo dos Milagres, tendo para o efeito convidado para presidirem às grandiosas festas micaelenses Bispos e Cardeais de diversas partes do mundo, e mandado que se preparasse a introdução do processo de beatificação da Veneranda Madre Teresa d’Anunciada, de que obteve da Conferência Episcopal Portuguesa o “nihil obstat”!
No livro “A vida e virtudes de Madre Teresa D’Anunciada ”, D. Aurélio declara que sem pretender antecipar o juízo da Santa Igreja, ele crê poder dizer que a vida da Madre Teresa foi exemplo de virtudes heróicas, atingiu vida interior profunda, alto grau de fé e de amor a Deus e ao próximo, brilhando nela uma santidade autêntica, feita de humildade e do cumprimento exato do dever e de grande penitência, tudo isto a par de um grande equilíbrio psíquico.
Nos dias de hoje, como no passado, há relatos de prodígios que populares dizem terem sido obtidos por intercessão de Madre Teresa da Anunciada e que merecem um acompanhamento sério e profundo, pela forma extraordinária como são relatados.
O amor de Madre Teresa ao Senhor Santo Cristo e o zelo pela sua glória marcaram profundamente a alma do povo micaelense, de tal modo que o seu culto jamais morreu ou afrouxou, desafiando mesmo os tempos e continuam a comover e a enriquecer a devoção popular e a constituir um dos mais notáveis acontecimentos na vida do nosso povo, sendo este facto mais um autêntico milagre de fé.
 

 António Pedro Costa

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Autor: CA

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