29 de janeiro de 2023

Entre a perplexidade e a incompetência

 1- Portugal está transformado num país de casos. Durante o mês de Janeiro foi o vai-e-vem no Governo com a demissão de ministros e secretários de Estado pelas razões que se foi conhecendo no debate diário que a comunicação social alimentava, retirando espaço às telenovelas. O Primeiro-ministro António Costa lá foi fazendo ouvidos de mercador, procurando passar incólume entre a tempestade, mas segundo as sondagens recentemente publicadas, atiraram-no para o fim da tabela com uma percentagem de intenções que o colocam na oposição, caso houvesse eleições agora.
2- Ao findar o mês, chegou outro folhetim, sobre os custos avaliados com a preparação do espaço e do altar para a celebração Eucarística do Papa Francisco nas Jornadas Mundiais da Juventude. Na verdade, os milhões de euros que estão previstos gastar são uma afronta perante a situação de crise em que estão as famílias e as empresas, tal como têm sido os apoios a outros eventos como, por exemplo, os 6,3 milhões de euros que a Câmara de Lisboa vai dar para a realização da Web Summit de 2023.
3- Neste folhetim entram várias personagens como o Patriarcado, o Presidente da República, o Governo, a Câmara de Lisboa e o Presidente da Fundação criada para liderar a preparação das Jornadas, e o que se estranha é o desencontro entre todas essas entidades, que andaram a trabalhar por conta própria e agora, perante os custos desmesurados previstos para pôr de pé todas as infra-estruturas necessárias para receber mais de um milhão de jovens que vão participar nas JMJ, agora, perante os 60 milhões de euros que estão previstos gastar no evento, o que nos deixa perplexos, é o facto de cada entidade agir sozinha num projecto que devia ser dirigido por uma estrutura de missão formada pelas entidades que são contribuintes para as obras a executar.
4- O que resulta desse folhetim, é a impreparação dos responsáveis e a leviandade com que se gere os dinheiros públicos. Trata-se de uma doença para a qual ainda não se encontra remédio. É um mal interno e externo, e continuamos a ver que os governantes passam o tempo agarrados a conceitos que alimentam a imagem, mas não servem as necessidades das pessoas e das empresas.
5- Além do problema grave que os Açores têm com a pobreza devido a factores estruturais e sociais em que a escola tem, necessariamente, de assumir um papel liderante, temos de olhar para o tecido económico existente e o que ele oferece a quem busca trabalho. Aqui entra a formação profissional que empresta qualidade ao trabalhador e ao empregador.  
6- Os Açores têm vários problemas que limitam o crescimento. Desde logo, o atraso dos fundos comunitários e a fraca execução do PRR, certamente devido a “uma série de entraves burocráticos”, reconhecidos pela própria Comissão Independente de Acompanhamento e Fiscalização das Medidas Especiais de Contratação Pública.
7- Espera-se que o pedido feito pelo Vice-Presidente do Governo para reforçar os sessenta milhões de euros que o PRR prevê para acudir às necessidades habitacionais da Região seja deferido, porque os custos para construir uma habitação estão para além das possibilidades dos jovens e das famílias monoparentais.
8- Precisamos de ter em conta a aposta que a União Europeia agora apresenta como tábua de salvação, que são as mudanças industriais, económicas e geopolíticas. Um pacote que pretende ser uma resposta aos subsídios dos Estados Unidos e da China, para alavancar a indústria na área das tecnologias eólicas, solar, baterias e hidrogénio.
9- É que os Estados Unidos aprovaram em 2022 um pacote de subsídio verde no montante de 369 bilhões de dólares, na Lei de Redução de Inflação de Joe Biden, com o objectivo de incentivar a produção doméstica e atrair investimentos em novas indústrias para a transição energética.
10- Dirão que estamos a comparar o incomparável, mas o que estamos a propor é que a Região tenha uma “politica doméstica” virada para a indústria, porque tanto se pode produzir peças para as novas tecnologias, nos EUA como nos Açores.
11- O que precisamos é de trabalhadores qualificados, que depois serão recompensados nos seus proventos, e assim sejam os governantes audaciosos, para responderem aos desafios que se colocam aos Açores.

Américo Natalino Viveiros

 

 

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Autor: CA

Categorias: Editorial

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