O Presidente da Associação de Consumidores dos Açores, Mário Reis, considerou ontem, ao Correio dos Açores, que a crise inflacionista “é factual e uma realidade oficial reconhecida por autoridades nacionais e internacionais. É em toda a sua extensão uma decorrência da excessiva dependência da Europa do gás e do petróleo russo. E, como é sabido, o aumento exorbitante do seu custo influencia de modo determinante toda a cadeia de produção incluindo, naturalmente, o recurso ao crédito bancário. Sem falar de uns oportunistas que sempre aproveitam, por um lado destas situações, da lentidão e da tibieza das instituições públicas, para se enriquecem à custa de um certo caos que tende a instalar-se nesses momentos”.
Mário Reis realçou, em sequência, que “como decorrência desses factores os preços irão subir mais nas rendas de casa ou mais exactamente na prestação mensal paga ao banco e na alimentação”. Em sua opinião, “quanto mais saudável e de melhor qualidade, mais cara será o que em parte se explica pelo fenómeno oportunístico, e ainda, ao contrário, da elasticidade da procura que explicaremos adiante. Logo há que explorar o filão resultante das circunstâncias actuais”. Mário Reis conclui, em sequência, que “em vez de peixe, carne, ovos, frutas e legumes em quantidades suficientes”, os consumidores “vão virar-se ao pão com manteiga. Em vez de adquirirem todos os medicamentos que necessitam, o que para muitos já era uma realidade mesmo antes da guerra, agora, com a subida dos custos de produção generalizada, a situação agrava-se ainda mais”. Esta “é uma situação que nos traz muita preocupação, na medida em que parece haver indicadores consistentes que quando na produção a inflação atinja 10 pontos percentuais, no retalho ou seja, o preço ao consumidor seja agravado, mais 8 a 9 pontos percentuais. Fazendo fé nos noticiários, existirão ainda situações extremas, que, eventualmente, poderão constituir abuso”, afirma.
Para a ACRA essas situações “merecem esclarecimento e estamos a constituir um grupo de trabalho com outros parceiros para tentar perceber quem possa estar a ficar com a parte de leão! Sendo que estão a ser enviados requerimentos às autoridades competentes nesse sentido”, alertou Mário Reis.
Mário Reis aconselha os consumidores a, antes de mais, não devem sair de casa para ir às comprar sem antes se sentarem e elaborarem cuidadosamente uma lista dos bens a adquirir”.
“Devem, ter muita atenção e fugir à tentação da aquisição, quiçá, ardilosa, de bens expostos como tendo grandes descontos e ou fazendo parte de grandes promoções, sem antes se certificarem que ela é real e efectiva”, alerta.
“O artigo que está muito bem exposto mesmo ali, à frente dos olhos está como que a convidar-se para o levarmos e isso ensina-se nas escolas profissionais e nas universidades há já alguns anos” e os consumidores devem procurar produtos que estejam mais escondidos.
“Ora os consumidores têm de defender-se procurando munir-se da melhor informação e de muita atenção. Quem vai às compras sem antes fazer lista, vai passear-se por entre as estantes de prateleiras, normalmente faz o trajecto que as grandes e pequenas superfícies preparam cuidadosamente para o levar a comprar o que proporciona maiores margens de lucro aos lojistas e acaba comprando não apenas o que realmente necessita, mas igualmente o “já agora” bens de que não tem precisão por aquela altura e muitas vez nunca irá necessitar desse(s) artigo(s)”, completa.
O Presidente da ACRA defende que, em todo este contexto, “as entidades públicas deveriam intervir com firmeza submetendo um conjunto de bens alimentares de primeira necessidade ao regime de margens de comercialização fixada, enquanto durar a guerra”.