Correio dos Açores - Como nasceu o Meu Cantinho?
Ana Catarina Medeiros - Eu sempre tive apetência para as artes manuais. A minha avó faz pintura em tecido e a minha mãe, embora seja professora, também se dedica à pintura em tecido, assim como a outros trabalhos de costura, pelo que este gosto acabou por me ser passado por elas e é algo que vem comigo desde infância. O Meu Cantinho nasceu em plena pandemia. Apesar de já ter feito alguns trabalhos antes, dediquei-me efectivamente a esta área durante os confinamentos provocados pela Covid-19. Na altura, comecei a fazer máscaras e elásticos para o cabelo. O ano passado, adquiri a minha primeira máquina de costura e, desde aí, nunca mais parei.
Que peças elabora?
Como referi, comecei com as máscaras e os scrunchies (elásticos para o cabelo). Neste momento, o meu trabalho mais recente são as bandanas, além dos porta-documentos e das fitas para chuchas. Além disso, este ano, também fiz bolas de Natal personalizadas com nomes feitos em pintura a tecido. Gosto muito de fazer coisas para a pequenada, nomeadamente para as crianças e para os animais.
Como surgiu a ideia de criar as bandanas?
Sempre achei que as coleiras que compramos para os nossos animais são demasiado simples, mas também considero demasiado vestir uma roupa a um animal. Então, surgem as bandanas que são um misto entre a roupa e a coleira, sem ser demasiado simples ou exagerado.
Além disso, fui escuteira durante 12 anos e sempre estive envolvida em acções de voluntariado, desde as recolhas de alimentos para o Banco Alimentar, às acções solidárias da Liga Portuguesa contra o Cancro. A certa altura, sentia que faltava esta vertente de ajudar o outro e queria fazer voluntariado em algo que fizesse sentido para mim. Então, em Maio deste ano, surgiram as bandanas em parceria com a Janett Medeiros, uma cuidadora independente de animais. Ela recolhe animais que estão em situações vulneráveis, mais especificamente gatos. A Janett tem colónias à sua responsabilidade e recolhe esses animais da rua, dando-lhes um lar e prestando todos os cuidados necessários. Ultimamente, temos feito acções solidárias para angariação de areia, patê, ração, entre outros bens necessários. O Meu Cantinho está associado à causa animal. Portanto, as bandanas foram criadas com o objectivo de ajudar a pagar a dívida que existe na Clínica Veterinária de São Gonçalo, mais precisamente de cuidados prestados a estes animais.
A meio deste mês, foram entregues 30 euros, os quais foram angariados em duas feiras, nomeadamente o Mercadinho de Natal da Senhora da Rosa e a loja do Pai Natal na Vila Franca. Nestas duas feiras, no espaço temporal de quatro dias, foram angariados 30 euros. No total, desde o início do projecto, foi entregue à Clínica cerca de 70 euros.
As bandanas são temáticas, isto é, são feitas conforme as festividades. Os meus gatos têm as bandanas que utilizam no dia-a-dia, mas no Natal tiveram umas com motivos natalícios. No Halloween, fiz-lhes umas com abóboras e morcegos. Estão sempre vestidos a rigor, de uma forma mais simples, e não escapam às comemorações.
Em que se inspira para criar as suas peças?
O canal que uso mais e que serve como fonte de inspiração é, sem dúvida, o Pinterest. Para fazer as bandanas inspiro-me nos três gatos que tenho. Eles são os meus modelos principais e favoritos. O restante, vou fazendo conforme o meu gosto. Se vejo algo que me agrada, tento recriar.
Trabalha por encomenda?
Considero que uma das mais-valias do Meu Cantinho é precisamente o facto de trabalhar por encomenda. Normalmente, as pessoas entram em contacto comigo, através das minhas páginas do Instagram ou do Facebook, dizem-me o que pretendem e eu ponho mãos-à-obra. Gosto muito de um desafio. Tenho, pela primeira vez, dois projectos entre mãos para uma esteticista, designadamente duas batas personalizadas, para entregar no início do próximo ano. A par disso, tenho feitos alguns porta-documentos e porta-chuchas que também têm vendido bem, porém são as bandanas que têm mais saída e são as minhas peças favoritas, de momento.
As bandanas são um artigo muito diferente. Nas lojas que vendem artigos para animais, não se encontram bandanas à venda e as pessoas acham piada a isso.
Como tem feito a divulgação do seu trabalho?
A divulgação tem sido feita através dos canais digitais, principalmente. Além disso, distribuímos alguns flyers pelas ruas nas angariações de bens que fomos fazendo para os animais. Nesta época natalícia, tenho participado em algumas feiras e mercadinhos de Natal.
Como descreveria a sua evolução?
Considero que foi uma evolução muito positiva em todos os aspectos. A nível psicológico, acaba por ser um escape para mim, agarro-me à máquina de costura e esqueço os problemas. Acima de tudo, tem sido uma evolução muito interessante. O Meu Cantinho é mais do que um hobby, é algo que faço por gosto. Nunca tive formação nesta área. O que sei, aprendi por minha conta através de vídeos no Youtube e de coisas que vejo no Pinterest.
Tem feito muitas vendas?
A nível geral, tenho feito algumas vendas. A época de Natal foi a altura em que vendemos mais e o Verão também foi bom.
Já vendeu peças para fora dos Açores?
No mês de Agosto, foram expedidas algumas bandanas para o Canadá e tenho outras espalhadas por Portugal continental, assim como pelas outras ilhas.
O que é mais importante num artista?
Creio que o mais importante é a criatividade. Além disso, a capacidade de interajuda é algo fundamental, abrangente a várias áreas. Considero muito importante ajudarmos as causas em que acreditamos. Como amiga dos animais que sou, associei-me a esta causa e tenho muito orgulho nisso.
Que perspectivas tem de futuro?
O objectivo, a longo prazo, é possuir um espaço físico, onde possa expor e vender os meus artigos. Entretanto, já pensei em colocar as bandanas à venda em outras lojas. É uma possibilidade a avaliar a partir do próximo ano.
Carlota Pimentel