Não deixa de ser curioso, que seja um partido anti-sistema, com ligações à extrema - direita europeia e mundial, que tome a iniciativa de propor uma revisão da Constituição de 1976.
Ter presente que no seu programa pretende não apenas um novo regime, como uma nova Constituição.
Iniciar a 4.ª República.
Nem uma palavra reserva às possessões insulares.
Da actual Constituição pretendem manter que Portugal é um Estado Unitário.
Consideram leviandade falar - se em outras formas de organização política e administrativa.
Autonomia progressiva, Estado Federal ou autodeterminação. Citações interditas.
Tais pretensões são crimes de lesa – pátria.
Alinhados com o amigo Abascal do Vox espanhol.
Apesar de terem conhecimento desta pretensão alguns partidos prontificaram - se a propor alterações à actual Constituição, cuja última revisão, que incluiu matéria de natureza autonómica, remonta a 2004.
Contudo existe quem defenda que este processo de revisão, iniciado por um partido nacionalista, tem outro objectivo que não apenas rever o actual texto constitucional.
Pretendem os nacionalistas saber quais as forças partidárias que os acompanham.
Para eventuais acordos. Afastam questões referentes ao aprofundamento das autonomias.
Aspiram ver vertido na Constituição temas relacionados com a pena de morte, serviço nacional de saúde, sistema de educação, prisão perpétua ou castração química.
Procuram pescar à linha para paulatinamente lançarem a rede.
Foi assim a estratégia dos seus camaradas europeus Örban, Salvini, Abascal ou Jalk.
Os resultados dos congéneres húngaros e italianos, foram auspiciosos, tendo já alcançado o poder nos seus países.
Quando em Portugal os amigos destes populistas fizerem vencimento a autonomia foi-se.
Só num Portugal Democrático será viável a concretização legítima da “Livre Administração dos Açores pelos Açorianos” .
Com a Constituição de 1933, que consagrou o Estado Corporativo e Nacionalista, nunca os Açores na sua história, haviam conhecido tamanho retrocesso nas suas aspirações.
As tentativas de se lutar por mais autonomia foram violentamente reprimidas causando mortes e feridos.
Em 1974 restabelecida a Democracia pensou-se que a elite colonial e centralizadora do Terreiro do Paço se teria desmobilizado. Puro engano.
Os convictos e consequentes defensores da Autodeterminação dos Açores, viram soçobrar os seus ideais, sem que antes tivessem ocorrido várias prisões.
Ficou-se por uma Autonomia coxa, cujas muletas em que se tem amparado, têm-se revelado ineficazes.
Tanto assim é que já a adjectivaram com os mais variados epítetos.
O povo na sua sabedoria costuma afirmar “que o que nasce torto tarde ou nunca se endireita”.
As vozes contra a revisão constitucional, já se fizeram ouvir na capital do império.
As pretensões açorianas são atentatórias da soberania da Nação.
Nos Açores a polarização acontece.
Os dois maiores partidos, que na sua matriz fundacional se reclamam da social – democracia, têm-se mostrado incapazes de unir esforços em matéria crucial para o futuro dos Açores.
Há os que pretendem que se aproveite o actual projecto de revisão e se avance já com algumas propostas.
Outros opinam que se devem aguardar para Março de 2023 pelo resultado do trabalho da Comissão Eventual para o Aprofundamento da Autonomia.
Os adversários dos Açores e da sua emancipação não só agradecem como contribuem ardilosamente para intensificarem tais divisões.
Nunca será demais enaltecer a coragem resistente dos açorianos que continuam a alimentar e fazer com que não morram os ideais acalentados por esse grande Açoriano que foi José de Almeida, muito à frente do seu tempo.
Acreditava firmemente na Autodeterminação e nas potencialidades dos Açores, não só pela sua posição geoestratégica como pela vastíssima zona exclusiva com o seu imenso mar oceânico.
A realidade conhecida e o que se prospectiva acabam por confirmar a visão de grande Líder que foi e teria sido José de Almeida.
A actual elite política açoriana tem de deixar de ser timorata e passar a ser mais assertiva, consequente e unida nas suas posições em relação a novos cenários no que à futura organização política e administrativa dos Açores respeita.
Desenganem-se os que em 1975 aplaudiam a independência mas agora opinam serem tais ideais utópicos e serôdios.
Os interesses de alguns, embora legítimos, não se podem sobrepor ao de todo um Povo.
Independentemente da circunstância de cada tempo histórico.
Os Açores continuarão a ser uma possessão de Portugal, enquanto os açorianos sem excepção, apesar de ideologias, etnias, classe social, credos religiosos não tomarem consciência da realidade da sua situação de povo servil.
Só a Autodeterminação permitirá, sem prejuízo da partilha dos valores da Lusofonia, substituir a “canga”, pela liberdade dialogante entre iguais.
Terminaria a conflitualidade permanente inerente ao actual estatuto autonómico.
2023. Novos horizontes. Urge!
António Benjamim