Há urna personalidade do mundo artístico a quem o teatro em Portugal muito deve. Uma personalidade que nunca é demais exaltá-la pela sua imaginação fértil; pela sua cultura; pela sua preocupação em dar aos seus espetáculos uma grande qualidade: quer nos textos, quer ainda pela excelência das músicas escolhidas. Filipe La Féria, com a sua revista “Revista é Sempre Revista” acaba de oferecer aos portugueses o que eles tanto desejavam: a revista que fazia parte da “cultura alfacinha” e que, infelizmente, desapareceu. As revistas que enchiam o Parque Mayer, com críticas contundentes que fugiam ao lápis azul da censura. Espetáculos que davam ao público aquilo que ele reclamava, numa altura em que muitas coisas ridiculamente eram proibidas. La Féria faz reviver a revista com a “Revista é Sempre Revista”, demonstrando o seu inequívoco talento, acima do normal; a sua grande capacidade de Encenador e Realizador. Num país onde a cultura é o parente pobre dos Orçamentos, onde a burocracia impera e atravanca as iniciativas, Filipe La Féria rompe com todas as fronteiras e põe no palco do Politeama, praticamente a história da revista à portuguesa, desde os anos 20. Evoca os maiores atores e atrizes que passaram pelos nossos palcos: Hermínia Silva, Minta Casimiro, Ivone Silva, Raul Solnado, Estêvão Amarante, João Villaret, Eunice Muiloz, Beatriz Costa e tantos outros que deram vida ao teatro.
Proporcionando momentos hilariantes, um ótimo “medicamento” para descomprimir, por horas, as que ali se passam, dos noticiários que nos intoxicam; das guerras cruéis que nos entristecem e do custo de vida que num arrepio vertiginoso mais sobre de dia para dia. É todo o ambiente que nos envolve e o fascínio das interpretações extraordinárias, com a magnificência de vozes de uma plêiade de jovens artistas, que fazem escola com La Féria e nos atiram para a beleza real de uma revista única que prestigia e honra o teatro português. É La Féria no mais alto da sua imaginação inesgotável; na sua grande experiência; na sua sensibilidade, onde sempre habitou o seu amor pelo teatro: primeiro como ator, depois como Encenador e Realizador. Tudo isto faz dele o grande Senhor do teatro do nosso país.
Nesta revista que, inclui quadros alusivos, entre outros, a Hermínia Silva, Raul Solnado e Max — homenagens a grandes figuras que, no seu tempo, deram um valioso contributo à revista. A homenagem ao Max é, simultaneamente, uma homenagem à Madeira, ilha da sua predileção. Inclusivamente, inspira-se no tecido, às riscas, das bailadoras do folclore madeirense para uma cortina de cena, o que dá ao quadro maior beleza.
O espetáculo é um somatório, muito bem pensado, de muitas vivências e acontecimentos do teatro-revista, através das diferentes épocas da sua existência. Uma revista que conta histórias e coloca-as nas mentes do público, surpreendendo-o, prendendo-o, entusiasmando-o, arrancando fortes aplausos.
Os efeitos especiais de imagem da autoria de Costa Reis são dignos de exaltação, bem como o luxuoso guarda-roupa: uma mistura da revista à portuguesa com a revista francesa.
É uma revista, estou certo, que permanecerá muito tempo em palco, por isso aconselho a quem for a Lisboa de não perder a oportunidade de assistir à “Revista é Sempre Revista”.
Há muito tempo que não se via uma Revista assim em Lisboa.
João Carlos Abreu