Luís Rodrigues ouvido como Presidente da Holding da SATA

Grupo SATA obteve um novo empréstimo de 60 milhões de euros sem aval do Governo e está na rampa de lançamento para a privatização

 O Presidente do Conselho de Administração do Grupo SATA, Luís Rodrigues, afirmou ontem que concretizou Quarta-feira passada um empréstimo de 60 milhões de euros “sem aval” do Governo dos Açores no âmbito da reestruturação do grupo empresarial
 Luís Rodrigues respondia às questões dos deputados na audição que lhe foi feita pela Comissão Parlamentar de Economia da Assembleia Legislativa Regional no âmbito da sua indigitação para Presidente da Holding da SATA.
O responsável sublinhou na audição que o Grupo SATA estará, em 2023, em condições, de “levar a companhia até 2028”, altura em que “haverá necessidade” de pagar o empréstimo das obrigações do Deutsch Bank dos 65 milhões de euros que foram contraídos
“E, nesta altura”, asseverou, “para fazermos os rácios de dívida, já estaremos a um nível que nos permitiria ir ao mercado sem necessidade de aval do Governo. Não se necessita de ir aos mercados neste momento a não ser que aconteça alguma coisa”, sublinhou

SATA está na rampa
de lançamento em 2023…

Aceitou que o Grupo SATA tem um passivo próximo de 300 milhões de euros mas realçou que, com a realização societária (que estará concluída no princípio de Janeiro) e com os reforços de capital já concretizados, haverá condições para que a SATA Air Açores entre em 2023 “sem passivo” e a Azores Airlines esteja com um passivo, que não concretizou, “e que terá solução no próximo ano”.
 Apesar da insistência dos deputados, Luís Rodrigues não quis revelar quais os resultados do Grupo SATA no final deste ano. Disse que “grande parte os resultados de 2022 já estão fechados, tudo indica que, operacionalmente, são melhores do que 2021, apesar de Novembro e Dezembro não estarem ainda fechados, até porque Dezembro é um mês importante”, referiu.
“Aquilo a que estamos a assistir neste momento, é que vai ser a palavra-chave de 2023, que é volatilidade, ou a incapacidade de prever o que vai acontecer. Neste caso, e neste momento, estamos a falar da meteorologia, por outro lado, temos o preço do combustível que, nas últimas semanas, desceu significativamente, apesar de agora já impactar pouco no ano mas, de qualquer das maneiras, é bem-vindo, e estou a torcer para que se mantenha assim ao longo do ano, o que seria bom para aliviar um bocado. E também estamos a assistir a uma revalorização do euro e tudo isso conta significativamente”, disse.
Em termos operacionais, garantiu que o grupo empresarial “vai acabar melhor do que no ano passado. Fomos conservadores até agora. Se se lembram, nas contas do terceiro trimestre, havia uma rubrica de impactos candiais que foi considerada conservadoramente, na altura, de cerca de 12 ou 14 milhões de euros que nos afectava negativamente, e esse valor agora deve ser parcialmente revertido porque o câmbio mudou de direcção, o euro valorizou”, explicou.
“Um dos exercícios que temos que fazer é pegar em todas as responsabilidades futuras com leasings para os próximos dez anos ou até ao final da vida dos aviões, e valorizar isso ao câmbio no dia do fecho de contas, que há-de ser significativamente diferente ao câmbio no início do ano”.

Relatório que vai para
Bruxelas é positivo

 Anunciou que a Administração está a “fechar o segundo relatório para Bruxelas, e estamos significativamente melhor em algumas variáveis e igual noutras que estavam no Plano de Reestruturação”.
Luís Rodrigues revelou que já surgiram “meia dúzia” de intenções de investimento no Grupo SATA. Admitiu que irão surgir outras intenções e que de todas, surgirão duas a três que deverão investir mesmo no capital social até, pelo menos, 51%.
Só depois do caderno de encargos estar pronto é que terão de falar com quem de direito e definir-se o interesse material. “Acredito, daquilo que conheço, que da meia dúzia de manifestações de interesse e de outras que vão aparecer, haja duas ou três que, de facto, se concretizem, que tenham interesse em continuar o processo. E, portanto, acredito, a não ser que haja outra guerra ou outro fenómeno fora do nosso controlo, que a coisa corra bem”, afirmou.
 Assegurou que, quer ele como os colegas da Administração “não estão a antever diferenças significativas entre o que tem sido o trabalho até agora e aquilo que será o trabalho no futuro, para além de termos que nos concentrar muito no tema processual e administrativo”.

Executivos do Conselho
de Administração mantêm-se

Anunciou que a composição do Conselho da Holding, “salvo alguma surpresa que possa acontecer no mercado, será o mesmo em termos de executivos. Sobre os não executivos, não sei. Não falamos ainda sobre isso com o Governo. Estamos à espera que o Governo dê as suas indicações. Estamos pura e simplesmente a aguardar, portanto, tranquilos em relação a isso”.
Deixou claro que a sua permanência ou não à frente do Conselho de Administração da Holding da SATA não dependerá do sucesso ou não da privatização.
“O plano da SATA, a nível de financiamento, “aquilo que foi feito na capitalização das empresas, foi também no sentido de não ter necessidade de recorrer aos mercados e ao financiamento bancário nos próximos anos o mais possível. A companhia deve ficar auto-sustentada a partir de 2023 e, portanto, a capitalização que temos deve permitir fazer isso, o que significa que não se prevê no futuro próximo uma ida ao mercado quer da Holding, quer das companhias”, revelou.
“De qualquer maneira, a verificar-se, por alguma razão, uma ida ao mercado, ela devia ser feita pelas companhias e não pela Holding. A Holding está cá em papel para garantir que elas estejam visuais e que não haja contaminação quando as coisas correrem mal”.
Explicou aos deputados que o 1 de Janeiro é a data para o início do processo,  a discussão e a elaboração das peças processuais vão começar. Não quer dizer que estejam prontas. Eu acho que o objectivo de todos é termos um caderno de encargos pronto o mais depressa possível. Entre fazê-lo depressa ou bem, prefiro fazê-lo bem. E se isso demorar mais tempo que seja. É importante ouvir os parceiros todos. A discussão começará logo que possível”.
Foi questionado se no Congresso da APAVT houve alguma intenção de entrada no capital da SATA e a sua resposta foi a de que “não houve nenhuma manifestação de interesse das agências de viagens. Houve sim uma provocação minha às agências para entrarem no capital social da SATA”.

“Se a SATA perder o concurso
“não vem mal ao mundo”

Outro dos temas questionados pelos deputados foi a questão das gatways. E Luís Rodrigues realçou que esta questão “é um tema delicado no futuro caderno de encargos porque, pela primeira vez, há, de facto, no Orçamento da República, um valor significativo de 9 milhões de euros para compensação das companhias que operam as quatro gatways, mas também, para além do valor, deve haver…”.
“Nem sequer está garantido que seja a SATA  a ganhar” o concurso publico das obrigações de serviço para as quatro gatways. “Aquilo que eu diria que deve ficar no caderno de encargos é que a SATA, na sua nova estrutura accionista, tenha sempre que apresentar uma proposta. Se apresentar uma proposta e perder, não vem mal nenhum ao mundo. Isto significa que alguém ganhará e estará a fazer a mobilidade das gatways que é o mais importante de tudo”.
A SATA, “com a sua capacidade, irá fazer outras coisas no mercado. Se não aparecer mais ninguém” ao concurso para o serviço público de transporte aéreo para as quatro gatways,  “então a proposta da SATA é aquela que é elegível e a SATA continuará a fazer as gatways e trabalhará com os governos e com a ANAC no sentido de aferir se aquele valor (9 milhões de euros) é suficiente ou não. Isso depende muito das circunstâncias da altura e do preço dos combustíveis. Aquilo que tem visibilidade neste momento é que o Governo da República está a trabalhar com o Governo Regional no sentido de afinar o caderno de encargos para as quatro gatways a partir de 2023. Isto significa que já estamos em Dezembro e não há caderno de encargos. Vamos chegar ao final de Março e vamos estar perante uma situação que obrigará a ANAC a estender  a operação actual por um período. Isto significará também que a SATA continuará a perder dinheiro nestas operações e irá fazê-lo até que a proposta de concurso público estiver operacional. E isso não está no Plano de Bruxelas…”
Começou por afirmar que “o esforço dos últimos três anos valeu a pena porque alguns dos resultados falam por si. Em termos de passageiros, a SATA tem estado muito melhor do que a generalidade das companhias da Europa e do mundo, vamos acabar 2022 com cerca de mais 10% de passageiros do que no último ano antes da pandemia, 2019, que já tinha sido o melhor ano de sempre”.
“Olhando para a frente”, prosseguiu, “2023 será claramente marcado pelo processo de privatização da Azores Airlines, um processo que vai ser complexo, como todos os processos de privatização são, e para isso vamos ter que trabalhar muito”.

O importante no
Caderno de Encargos

Na definição do Caderno de Encargos, afirmou, “a primeira questão que temos que ter em consideração é o que estamos a fazer e quem servimos. A nossa recomendação, muito clara, é que o primeiro mercado que temos que servir, claramente, é o mercado dos residentes nos Açores e na diáspora. Os residentes é um bocadinho maior do que os açorianos, porque há muitos não açorianos que vivem cá e que precisam de mobilidade primária, e a diáspora por causa do papel que teve, tem e terá, por ser um grupo que necessita de mobilidade primária de regresso a casa e que precisa de ficar acautelado no processo”
Em segundo lugar “estão os turistas de mercados relevantes. Por turistas entendo aqueles que dormem cá, seja uma noite ou três semanas, e mercados relevantes porque não faz sentido correr riscos que não estamos em condições de assumir”.
O terceiro grupo é o das transferências. “Por transferências entendam-se passageiros que viajam na SATA, que interessam de alguma forma, mas que não saem do aeroporto ou que, entre viagens, deixam pouco impacto”.
 Deixou claro que pretende um Grupo SATA “onde as pessoas sejam felizes a trabalhar. É uma forma de dizer que os passageiros são a nossa primeira prioridade. É impossível pensar numa companhia aérea onde os passageiros não sejam a primeira prioridade, pois são eles que nos pagam o salário. Ninguém gosta de ligar para o call centre e apanhar alguém mal-disposto, ou um balcão no check-in onde as pessoas não estão atentas ao que estão a fazer ou uma tripulação de bordo que está preocupada em pagar as contas, mas se aqueles que estão cá dentro estiverem felizes a trabalhar, os que viajarem connosco também estarão felizes”.
“Segundo, que seja um dos mais eficientes na indústria. Uma companhia aérea pequena tem muito mais dificuldade em se rentabilizar comparado com uma grande companhia, as economias de escala têm muita importância na aviação, e, por isso, temos que fazer o esforço adicional para sermos mais inteligentes e mais ágeis a gerir os nossos recursos, de modo a conseguirmos promover a sustentabilidade da organização”.
“Para além do mais, isto será algo que, obviamente, interessará a quem vier, porque se formos eficientes a fazer as coisas, aumentamos a probabilidade de manter a empregabilidade dos nossos colaboradores neste momento, seja em que contexto for”, realçou.
“Por fim, queremos que seja um motor económico e social da Região. Dado a importância que tem, não pode esconder-se das suas responsabilidades, e estará cá sempre para ser um motor e para dar o exemplo”, concluiu.

João Paz

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Autor: CA

Categorias: Regional

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