Arguido do homicídio na Lomba de São Pedro alega não se “lembrar de nada”

Prossegue esta tarde o julgamento de um homem de 40 anos, acusado do homicídio qualificado, com mais de 30 golpes de catana, de uma mulher de 42 anos. Os factos remontam ao dia 15 de Setembro do ano passado e ocorreram no Caminho das Lombas das Vacas, na freguesia da Lomba de São Pedro. 
Neste processo, a acusação tenta provar que o arguido cometeu o homicídio movido “por um forte sentimento de vingança pessoal”. O relatório da Polícia Judiciária refere ainda que “mercê do elevado consumo das chamadas drogas sintéticas”, foi-se criando na mente deste homem a ideia de que a “vítima actuasse sobre ele através de feitiçarias no sentido de prejudicar a sua relação sentimental” com uma outra mulher. 
Indo concretamente à data dos factos, recordar que estes tiveram lugar após a hora de almoço quando o homem de 40 anos, acompanhado pela sua namorada, terá atravessado a viatura que conduzia à frente do carro onde seguia a vítima. De seguida, terá começado a desferir golpes (mais de 20) com uma catana, retirada do seu porta bagagens, no carro da mulher atingindo-a várias vezes nos braços. A mulher ainda tentou fugir do local, mas a sua viatura acabou por embater num muro próximo. Depois, a vítima acabou por sair do interior do carro, momento em que o arguido terá desferido mais de 10 golpes, sempre de cima para baixo, na cabeça e cara da mulher que acabaria por falecer. Após estes acontecimentos, o homem colocou ainda vários grãos de tremoço tostado junto aos órgãos genitais da vítima. Mais tarde nesse dia, o homem acabou por ser detido, na Fajã do Araújo, no concelho do Nordeste. 
A Acusação do Ministério Público defende que o arguido agiu de forma ponderada, pré-determinada, livre, deliberada e consciente, sublinhando ainda que este demonstrou indiferença pela vida da vítima. 
Na primeira sessão de julgamento, após uma breve conferência entre o arguido e a sua representante, o homem decidiu pronunciar-se sobre os factos de que é acusado e responder a algumas questões colocadas pelo Tribunal. 
Começando por referir que “ela (a vítima) perseguia-me”, o homem de 40 anos admitiu ter mantido uma relação amorosa, iniciada em 2019, com a vítima. Quando, algum tempo mais tarde, o arguido decidiu terminar o relacionamento, a mulher não terá aceite de bom grado a decisão. 
“Ela queria continuar a relação (…) ou era dela ou de mais ninguém”, alegou o homem antes de reforçar que “ela tirava o dia para andar atrás de mim”. 
Referindo-se ao livro de São Cipriano (de feitiçaria), o arguido afirmou que a vítima “usava esse livro para saber onde eu ia”. 
Confrontado com afirmações dirigidas à actual namorada de que tinha ameaçado matar a vítima, o arguido explicou que estas foram proferidas “da boca para fora”. Sobre as duas catanas que transportava no carro, o homem destacou que as mesmas eram usadas no seu trabalho (lavrador), reforçando que as catanas “não eram para a matar”. 
Concretamente sobre o dia do homicídio, o arguido alega que, após ter atravessado o carro à frente do veículo da mulher, “ela entrou dentro de mim”. 
“Entrou em mim e nunca mais a vi”, reforçou o arguido que afirmou não se lembrar de mais nada. Ainda sobre o acto, o homem admitiu lembrar-se de ter colocado os tremoços no corpo da vítima, algo que se constituiu como uma clara contradição ao anteriormente dito por si.  Questionado sobre a razão que o levou a queimar as roupas ensanguentadas, o arguido explicou que “os feitiços estavam na roupa”. 
O homem de 40 anos de idade, diagnosticado como doente bipolar desde 2000, afirmou ainda só ter dado conta “do que tinha acontecido no dia seguinte”.  A terminar, o arguido realçou sentir remorsos e admitiu que a vítima “mexeu muito comigo e nunca mais fui a mesma pessoa”. 
“Fiquei possuído pelo diabo (…) atacava o diabo que via”, alegou o arguido.         
                                          Luís Lobão 
 

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Autor: CA

Categorias: Regional

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