13 de novembro de 2022

Recados com Amor...

Meus Queridos! Juntei aqui, na minha cidade norte, na rua Gonçalo Bezerra, um conjunto de amigas para comemorar o São Martinho, apesar de o dia ter perdido o brio doutros tempos, em que havia comissões encarregues de organizar grandes festejos, ao ponto de fechar-se ruas para juntar as pessoas à mesa para provarem o vinho e comer as castanhas, depois de um repasto onde não faltava a carne guisada… A minha amiga Gertrudes lembrou que entretanto os organizadores d’outrora já Deus os levou… e as gerações que ficaram não estão para canseiras, preferindo sentar-se num restaurante com serviço à lá carte… No decorrer do serão pusemos a escrita em dia e algumas das minhas amigas presentes são profissionais de saúde ainda no activo, no Hospital do Divino Espírito Santo… No decorrer da noite lá fomos trocando impressões sobre o cenário político/partidário que vai em Portugal e também na Região… Quando se falou do clima político nas ilhas, fomos “encalhar” na Saúde, que está a ser comandada em dois “andamentos”, onde o Secretário da Saúde não tem mão nem poder no Hospital do Divino Espírito Santo… e o meu querido Presidente Bolieiro tarda em pôr ordem na casa… É que o péssimo clima de trabalho no hospital tem merecido muito falatório e já transbordou para a opinião pública… Não é meu hábito dar crédito a qualquer recadinho anónimo que me deixam na redacção do Jornal que tão generosamente me acolhe no seu seio, mas perante a conversa… desta vez tive de usar o critério seguido nas denúncias anónimas que vão parar aos investigadores judiciais, a partir das quais são desencadeados os processos de investigação, coisa que não é do meu agrado porque tal método reporta-nos às denúncias no tempo da Inquisição de má memória… Abri uma excepção e então falei-lhes de uma carta aberta, anónima, que anda a circular por aí, e que elas também receberam… denunciando a perseguição feita no maior hospital dos Açores… a vários profissionais, incluindo o despejo de gabinetes e mudança de pessoal quando não lisonjeiam o trabalho da Administração… Há pessoas que à revelia dos directores de serviço, quando chegam ao trabalho... a fechadura do local foi mudada… e são depois enviadas para lugares impróprios para executarem a sua função… A minha amiga Gertrudes diz que a carta contém um poderio de denuncias que são por si suficientes para que na Assembleia Regional seja constituída pelos senhores deputados uma Comissão de Inquérito para averiguar a forma de gestão do HDES e as razões da perseguição feita aos vários profissionais do serviço… já que o Secretário da Saúde não tem poder próprio para dar um soco na mesa quanto à deterioração da governança do maior hospital dos Açores… Depois admirem-se de qualquer movimentação e contestação por parte dos profissionais de saúde do HDES! Que São Martinho ajude a resolver o que precisa ser resolvido!

Meus queridos! A minha Prima Maria da Praia ligou-me esta semana para me dizer que já acertou com umas amigas de peito uma ida até à cidade património mundial no dia 15 de Janeiro onde, pelas 17 horas, irá fazer-se a entrada solene do novo Bispo de Angra que antes da concelebração fará o “trajecto dos bispos”, saindo, bem à moda do tempo dos vapores, da Igreja da Misericórdia, no Pátio da Alfândega e subindo a Rua Direita até à Praça Velha e voltando depois a poente para a Rua da Sé até à catedral. D. Armando Esteves Domingues toma posse já passados os fervores e o Natal… e tem muito para fazer e se inteirar… para começar com o pé direito. Se eu conseguir uma passagenzinha dessas de sessenta euros na SATA, sou capaz de lá estar com o meu vestido azul-bandeira e vou oferecer ao novo antístite angrense um exemplar da edição do jornal que tão generosamente me acolhe no seu seio, que em 5 de Março deste ano trazia a letras gordas de primeira página que D. Armando era o possível novo bispo da Diocese açoriana. E isto era de fonte segura. Nunca se saberá é o que houve depois para que só passados oito meses viesse a confirmação… Mas isto agora são outras rezas, porque o que interessa é que o bispo de Oleiros se faça Açoriano de coração, como ele mesmo já disse…

Ricos! Esta semana já me custava abrir a televisão e ter que levar a toda a hora e a todo o momento com os piquenos e piquenas que deveriam estar a estudar, mas que preferem andar a protestar e a fechar escolas por via de se acabar com os combustíveis fósseis. Eu sei que a irreverência da juventude é importante nas viragens do mundo, mas perde todo o sentido quando vira fundamentalismo e malcriação, principalmente quando se trata de coisas sérias e que não se mudam ao sabor da gana de cada um… Os piquenos dos boicotes às escolas que são contra a gasolina e o gasóleo, todos os dias vão para a escola no popó do papá e todos os anos não dispensam as férias aqui e ali nos poluidores aviões e paquetes de turismo… E quando gritam pelo Ambiente, ostentam milhares de cartazes de plástico pintados com sprays que são verdadeiros atentados à natureza e depois até deixam os ditos cujos aos montes para o pessoal da limpeza os levar para o lixo… E aquela coisa de “só saio quando chamarem a polícia” é mesmo de rir, se não fosse de chorar… Se é assim que querem construir um mundo novo, vou ali e já venho!

Ricos: Foi uma festa rija que aconteceu, na passada Quarta-feira, para os lados de Rabo de Peixe, com o Clube Desportivo daquela vila a dar uma lição de desportivismo aos Açores, apurando-se para os oitavos da Taça de Portugal. Como se sabe, aquela formação é o único emblema sobrevivente das ilhas em competição, inscrevendo mais uma vez o seu nome nos anais do desporto. Segundo me contou a minha amiga Célia, uma arreigada apaixonada pelo futebol e que vai a todos os jogos, … o novíssimo Campo de Jogos Bom Jesus foi pequeno demais para os adeptos daquela agremiação desportiva que quiseram juntar-se para apoiar a sua equipa. Nem os alunos da escola profissional sedeada naquela vila faltaram à chamada e lá compareceram, numa bonita onda de apoio ao Desportivo de Rabo de Peixe, cujo encontro com a equipa continental Sanjoanense foi transmitido pela RDP em horário nobre, levando, assim, o nome daquela localidade para além do horizonte açoriano. Jaime Vieira, Presidente do Clube, ofegante e eufórico, aos microfones da rádio agradeceu aos jogadores e à massa associativa o resultado histórico dos dois a zero. No entanto, no meio de tanta alegria e celebração um senão, ou seja, o Clube volta a ser penalizado, porque os espectadores ultrapassam largamente a capacidade do recinto. Por isso, a Célia lança um apelo para que urgentemente se amplie o espaço destinado a acolher o público. É caso para dizer, mãos à obra e empenho das entidades oficiais para assegurar os custos…

Meus queridos! A minha prime Maria da Vila telefonou-me esta semana para me convidar a ir à festa da Senhora da Paz, na antiga capital, mas as minhas cruzes já não ajudam a subir aquele monte e a escadaria. Mas, no meio da conversa, disse-me ela que muita gente na Vila se tinha lembrado dos 46 anos da morte do médico Dr. Simas que ali ninguém esquece e a propósito referiu uma conversa do seu sucessor na Vila, o meu querido Dr. Luís Soares, que diz que gostava de saber onde colocaram a placa evocativa da memória do grande médico que se encontrava na entrada do velho hospital da Vila e que ali fora colocada em 1983, quando se celebraram os 500 anos daquele hospital. A minha prima diz que também gostava de saber o paradeiro da placa, porque as memórias não podem ser postas e tiradas ao sabor das ondas políticas do momento. É por esta e por outras que as placas assinalando eventos e homenageando pessoas não podem ser retiradas ao sabor dos partidos ou dos dirigentes das instituições, porque elas marcam a história e nela cabe o contributo de quantos foram agentes na acção bem como o contributo dado pelo saber de cada um… Será que a dita cuja placa homenageando o contributo do Dr. Simas na Vila, e não só,…vai ser reposta?

Ricos! A minha prima da Rua do Poço continua a riscar dias no calendário à espera que comecem as obras nas defuntas galerias da Calheta que prometeram que iriam começar até ao fim do ano… É que, lá dentro, as árvores infestantes já se vêem cá de fora e a porcaria está de novo a acumular-se. E diz-me ela que todas vezes que desce a Rua do Poço e olha para ali, não sabe o que pensar… Dum lado é o dito cemitério de betão armado, ao meio é uma travessa onde passam popós todo o dia mas que ninguém sabe de quem é, pois ainda não se definiu se é pública ou privada, e lá continua a base de cimento à espera que lhe colem os azulejos com o nome que lhe foi dado e que não pode ser usado oficialmente: Travessa do Varadouro. E olhando mais ao lado fica doente com o velho e emblemático edifício da EDA há anos a pedir p’las almas uns baldes de tinta nas paredes e nas grades já enferrujadas… Quem viu aquele edifício em tempos idos e vê agora, até parece que estão à espera que venha o último e apague a luz…

Meus queridos! Quero mandar um ternurento beijinho ao meu querido e sempre jovem antigo Ministro da República, Professor Laborinho Lúcio, pelo êxito do seu novo livro “As Sombras de uma Azinheira”, que tem recebido excelentes críticas literárias e que, num bem encadeado romance, leva o leitor a 45 anos de ditadura e 45 anos de democracia em Portugal. Depois do “Beco da Liberdade”, este volta a ter um cheirinho de madrugada de Abril e não é em vão que joga com as sombras da azinheira… da celebérrima Grândola… Já pedi à minha sobrinha-neta para procurar a obra de Laborinho Lúcio nas nossas livrarias… A crítica diz que merece ser lido… E eu não duvido, porque se trata de alguém que já nos habituou à qualidade literária como em tudo o que faz. Por isso, um repetido e ternurento beijinho!

Meus queridos! Este ano, o São Martinho quase passou desapercebido, com o preço das castanhas e com o vinho, que de cheiro já pouco tem. Mas li no jornal que tão generosamente me acolhe no seu seio, a reportagem sobre as castanhas da Terceira que são mesmo saborosas, mas que custam a dar para o mercado local… De resto, e pelo preço que são vendidas depois, só como remédio, mas ninguém se pode admirar dos preços que elas atingem porque arranjar alguém para trabalhar numa terra já é mais difícil encontrar …do que uma agulha num palheiro. Há produções que não se podem mecanizar e estas têm os dias contados porque há muita gente que odeia trabalhar na terra e depois só sabe falar mal dos preços das coisas… Feliz de quem ainda produz para si, porque se for para fazer contas… sempre é verdade que a agricultura é arte de empobrecer alegremente…

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Autor: CA

Categorias: Maria Corisca

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