O Presidente do Conselho de Administração da EDA esteve ontem na Comissão de Assuntos Parlamentares, Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (CAPADS) onde foi ouvido no âmbito do Projecto de Decreto Legislativo Regional nº67/XII: “Regime Geral da Ação Climática na Região Autónoma dos Açores”, do PS e do PAN.
Nesta audição, Nuno Pimentel defendeu desde logo que deveria existir, “do ponto de vista político, uma prioridade estratégica específica na geotermia”.
“É uma fonte de energia renovável, mas não é equiparável às outras fontes de energia renovável e é um recurso único que os Açores têm. Não é equiparável às outras fontes de energia por, entre outras características, ser uma fonte previsível”, destacou.
Admitindo que já foram realizados investimentos avultados nesta vertente, o Presidente do Conselho de Administração da EDA considera que “ainda podem ser feitas mais coisas em termos de aproveitamento nas ilhas onde há potencial. Penso que é um vector que não deveria ser desprezado nesta definição da política energética nos Açores”.
Numa intervenção inicial onde o gestor realizou uma intervenção de aproximadamente 20 minutos, Nuno Pimentel defendeu que a produção descentralizada deveria “estar também acompanhada do armazenamento descentralizado”.
“Isso derivado às características das fontes de energia renováveis mais comuns, como é o caso da fotovoltaica e da eólica, nomeadamente da sua intermitência, mas acima de tudo da sua indisponibilidade. Ela pode não existir no momento em que queremos que ela exista. A questão do armazenamento é crítica e devia-se fomentar o armazenamento quer ao nível mais industrial, mas também naquilo que se poderá vir a promover ao nível de produção descentralizada que deveria estar acompanhada de armazenamento”, referiu.
Sobre as metas a atingir, o Presidente do Conselho de Administração da EDA, concordando que as mesmas devem “ser desafiantes”, afirmou que as presentes no documento em análise “não são realistas e temos que olhar para as nossas circunstâncias”.
“Somos ilhas isoladas e cada ilha é uma micro rede isolada e não temos interligações, nem para o exterior nem entre ilhas. Nos anos 80 foi testada uma ligação do Faial com o Pico, mas não é tecnicamente e economicamente viável. Não é uma solução que se possa sequer equacionar”, garantiu.
Nuno Pimentel reforçou que “a grande questão” não passa exclusivamente pelo aumento da capacidade de energias renováveis, mas sim pela “capacidade de armazenamento”. Para fundamentar este ponto, deu como exemplo o facto de em 2021 “desperdiçarmos cerca de 27% da energia que as instalações que existem poderiam produzir. Uma estimativa de 30 gigawatts/hora que não conseguimos integrar na rede. Aí é que está a lógica do investimento que a EDA está a fazer. É um investimento que é uma combinação entre aumentar e investir mais em potência instalada de energias renováveis, mas com um sistema de baterias”.
O Presidente da eléctrica açoriana entende que “é essa abordagem integrada” que poderá fazer com que se atinja, “até 2026, os 61% naquilo que diz mais directamente respeito à produção de energia eléctrica”.
Nesta audição da CAPADS, Nuno Pimentel referiu-se igualmente sobre os chamados “combustíveis verdes”.
“Estamos a acompanhar com muita atenção (…) Há muito desenvolvimento nesse domínio, quer associado ao hidrogénio, mas não só e, havendo combustíveis limpos, teremos, de facto, uma solução. Vai depender muito da evolução tecnologia que vier a acontecer nos próximos anos”, realçou.
Caso da experiência realizada
na Graciosa
Referindo-se concretamente sobre o exemplo da Graciólica, “um excelente exemplo”, onde foi realizado um investimento no armazenamento de energia proveniente de eólicas e fotovoltaicas, o Presidente da EDA aproveitou esta experiência para lembrar que “o melhor que se consegue, a estatística demonstra isso, foram 65%”.
“Só para dar uma ideia, a Graciosa tem uma ponta de 2.3 megawatts, a capacidade de energias renováveis instaladas é de mais do dobro (4.1 eólico e mais 1 em fotovoltaicas). Dá 65%, é excelente, mas também é importante dizer um pequeno pormenor, o máximo que se conseguiu em termos de tempo continuo a trabalhar com base em energias renováveis, foram 6 dias”, disse antes de admitir que noutros casos, como a geotermia em São Miguel e na Terceira, ou das Flores, “onde temos uma grande fonte hídrica, podemos ir mais além”.
Nuno Pimentel reconheceu por isso que, em termos gerais, “há muito para fazer e evoluir”.
“Não só aqui nos Açores, porque estamos muito dependentes da evolução tecnologia e há de ainda muitas tecnologias que não estão consolidadas. Mesmo que queiramos ir ao mercado para encontrar elas ainda não estão lá”, lembrou. O Presidente do Conselho de Administração da EDA alertou ainda para a necessidade de se realizar “investimento de uma forma equilibrada”.
“O empenho da EDA em trabalhar neste sentido é imenso e às vezes ficamos tristes com as suspeitas e dúvidas que se lançam sobre o trabalho que a EDA está a fazer”, lamentou.
“Não participamos na Estratégia Regional para a Energia e na elaboração desse documento. São das coisas estranhas que parecem acontecer nesta terra…”
O Presidente da EDA, quando confrontado com a discrepância existente entre as previsões da companhia e as da Estratégia Regional para a Energia, afirmou que “não participamos na Estratégia Regional para a Energia e na elaboração desse documento. São das coisas estranhas que parecem acontecer nesta terra”.
Em resposta a questões colocadas pelo deputado do PS, José Contente, o responsável pela EDA avançou que, tendo em conta as previsões mais actuais e todos os investimentos que irão ser realizados, “eventualmente em 2026/2027 até se possa ir um pouco mais acima dos 62%”, afastando de forma categórica a meta presente no Decreto Legislativo Regional que se encontra a ser debatido.
“Chegar aos 80% em 2035 não é realista. De acordo com as projecções e análises que temos feito, em 2030, levando já em consideração, por exemplo, o investimento máximo que o SOLENERGE vai introduzir e os novos investimentos em fotovoltaico, estimamos que possamos chegar a 65%”, afirmou.
Reportando-se ao presente ano, Nuno Pimentel adiantou que “este ano estamos a ter menos de 20% de energia porque não há vento (…) Temos uma capacidade instalada que em situações normais nos daria para cerca de 40% de renováveis”.
O Presidente do Conselho de Administração da EDA espera que, com o Plano de Investimentos em curso, seja possível aumentar a capacidade instalada de renováveis, embora deixe um alerta.
“Oxalá consigamos fazer todos estes investimentos porque a conjuntura é muito difícil”, finalizou.
Luís Lobão