Completa-se hoje um mês sobre a data em que partiu para a outra dimensão da vida, aos 76 anos, o Padre Cipriano Franco Pacheco. Um Amigo pessoal, desde o início dos anos sessenta, em Angra, onde na mesma Casa “Santa, Mimosa de Deus” estudámos, mas acima de tudo uma figura marcante na Igreja açoriana que se impôs pelo saber e pelo viver. Pelo saber que nunca descurou, estudando sempre, formando continuamente e cultivando o Pensamento, e pelo viver em que se impôs pelo exemplo de humildade e autenticidade que caracterizavam o seu modo de estar, como Padre e como cidadão, atento às realidades e às mudanças do Mundo.
No espaço de pouco mais de um ano, perdeu a Igreja dos Açores três padres que, cada um à sua maneira, foram verdadeiros obreiros conciliares, visionários de um cristianismo actual e autêntico e testemunhos de proximidade e fraternidade. Falo de três Amigos inesquecíveis: António Cassiano, Octávio Medeiros e Cipriano Pacheco. Todos da mesma geração e sensivelmente das mesmas idades. António Cassiano, o Pároco-trabalhador, Octávio Medeiros, o Sociólogo-professor das periferias e Cipriano Pacheco, o Filósofo-formador, pensador sereno e convicto que deixa marcas duradouras em quantos tiveram a graça de o escutar e de seguir o seu percurso de padre e professor.
A última vez que o vi, já bastante debilitado, foi a ler o seu testemunho, no dia 12 de Junho, na sessão comemorativa do primeiro aniversário da morte do Padre António Cassiano, com a apresentação do Livro “Eu, Padre Me Confesso”, do Professor Teixeira Dias. Ali senti a força da sua Palavra quando falou emocionado do colega Cassiano e daquele “Amar é servir” que norteou a sua vida.
Já muitas pessoas e de muitas formas, testemunharam o apreço pela vida e pela obra do Padre Cipriano Franco Pacheco. Mas nunca será demais salientar a simplicidade com que viveu e a humildade que o acompanhou até ao fim. O Padre que não quis ser cónego, porque “na palavra padre se encerram todos os títulos”.
Um dom especial marcava as suas homilias sempre sóbrias nas palavras, mas profundas no pensamento. Tornava-se membro da assembleia celebrante e falava de acordo com o ambiente em que celebrava. Pela amizade que havia entre ele e o Padre António Cassiano, frequentemente ia presidir às Eucaristias, tanto em São Pedro, de Vila Franca, como na Ribeira das Tainhas e era aí que nos encontrávamos, quando eu dirigia o coro local ou quando animava as Missas, ao órgão e canto! O Padre Cipriano conciliava, de forma admirável, a sua linguagem com o espírito de cada liturgia e - coisa nem sempre frequente – sabia sintetizar, tornando as Eucaristias breves e ao mesmo tempo dignas e vividas.
Como Vigário Episcopal para as Ilhas de São Miguel e Santa Maria, sempre foi um inconformado com certa inércia eclesial, mas sempre apostando nas áreas da formação e no diálogo entre todos os sectores em que era preciso intervir. Sempre no silêncio e sem levantar ondas com incompreensões ou indiferenças.
A melhor homenagem que, em minha opinião, poderia ter sido feita ao Padre Cipriano Pacheco, foi aquela que neste mesmo Correio dos Açores, Carlos Medeiros Sousa, fez no dia 2 de Outubro, com a transcrição da “Entrevista a Jesus”, publicada no jornal “Correio do Norte”, na Páscoa de 2005, revelando agora que foi o Padre Cipriano Pacheco que, com pedido de anonimato, respondeu, como ele pensava que responderia Jesus às diversas questões. Uma entrevista que, com muitos outros textos de sua autoria, deveria ser perpetuada em livro, porque o livro é a melhor memória de uma pessoa daquelas que simplesmente não morrem, mas ficam nos corações e nas palavras.
E hoje, neste olhar para a Casa do Pai, onde ele repousa, fica aqui esta humilde homenagem num abraço a todos os que sentiram a dor da sua partida e que deixo da pessoa de seu irmão e meu Amigo, José Maria Pacheco.
Santos Narciso