11 de outubro de 2022

Opinião

Enquanto Hitler morria e a suástica caía…


…Salazar cumpria…
No passado mês de Setembro Portugal decretou três dias de luto nacional pela morte da Rainha Isabel II.
 O Conselho de Ministros justificou a decisão com o facto de o Reino Unido ser “o mais antigo aliado” de Portugal.
Os admiradores de Salazar ficaram estupefactos quando a comunicação social, ao anunciar o luto nacional em homenagem à rainha, associavam igualmente que também tinham sido decretados três dias de luto a quando do falecimento de Nelson Mandela, S. João Paulo II… e de Adolfo Hitler. 
Em 1945, o país também teve três dias de luto por Hitler depois do seu suicídio a 30 de Abril desse ano. 
O Estado Novo, com Salazar ao leme, decretou a medida, colocando as bandeiras nacionais a meia - haste.
Salazar, respeitosamente, cumpria.
O protocolo de Estado era levado a cabo com rigor. 
Havia falecido um Chefe de Estado, com quem o regime tinha mantido relações diplomáticas, embora a opção pela neutralidade, implicava uma não participação activa na guerra.
Como faz por lembrar o Professor Adriano Moreira, Salazar fazendo jus à sua proverbial argúcia, “inventou” um instrumento jurídico, o da “neutralidade/colaborante que livrou Portugal do drama da guerra.
Enquanto eram enviadas toneladas de alimentos em conserva para as tropas alemães que lutavam com denodo na frente leste a combater os bolcheviques, Salazar negociava a cedência da base das Lajes aos ingleses.  
Sabe-se da proximidade ideológica de Salazar e do seu Estado Corporativo e Nacionalista ao Nacional-Socialismo de Hitler, embora as relações mais evidentes se tivessem estabelecido com o fascismo de Mussolini. 
Voltou à ribalta a velha questão.
O que sabia António Oliveira Salazar do Holocausto quando declarou o luto nacional? 
Dos seus inimigos comunistas, personificados pelo nacional-comunista Estaline, Salazar conhecia as purgas, perseguições, crimes sanguinários e os famigerados gulags, também chamados campos da morte, onde pereceram milhares de cidadãos, não poupando até alguns membros da nomenclatura soviética.
 Explorava como propaganda para juntar a nação contra os seus seguidores em Portugal, nomeadamente os militantes do Partido Comunista, muitos dos quais acabaram os seus dias no famoso campo de concentração do Tarrafal.
Diz-se que ficou muito sensibilizado quando o Adolfo Hitler lhe ofereceu um carro blindado, para que pudesse se deslocar em melhor segurança, assim como a disponibilidade de cursos formação em Berlim orientados pela Gestapo à sua congénere portuguesa. 
Daí que foi com surpresa e algum desconforto que Salazar tomou conhecimento do pacto de não agressão assinado em Agosto de 1939, entre Estaline e Hitler. 
Alemanha e a União Soviética comprometiam-se em manterem-se neutrais se uma delas fosse atacada por uma terceira potência.
Estudiosos do salazarismo, têm vindo a defender, que o Presidente do Conselho português e ministro dos Negócios Estrangeiros estava ao corrente da existência de campos de extermínio nazis, como o de Auschwitz.
Três anos antes do fim da guerra, Salazar já conhecia os relatos do horror dos campos de concentração nazis.
Conta-se que foi com grande relutância que Salazar teve de concordar com o parecer da censura, quando esta evitou que o jornal católico pró regime “A Voz” publicasse no primeiro dia do ano de 1942 um texto que noticiava a prática das maiores crueldades praticadas pelos nazis, nomeadamente sobre crianças.
Contudo a historiadora Irene Pimentel, descarta a possibilidade de o luto nacional ter sido declarado por afinidades ideológicas com o regime nazi. 
Salazar não era um “pró-nazi”, era mais um “conservador católico” e o seu regime não teve “a componente racista e anti-semita”, afirma a historiadora. 
Mas “ele nunca quis a derrota a Alemanha, queria a assinatura de uma paz em que não houvesse vencedores nem vencidos, o que era absurdo naquela altura”.
Como seria de esperar o luto provocou uma onda de protestos internacionais e grande escândalo interno.
 Passado o luto nacional, Salazar ordenava que não se fizessem mais referências públicas ao assunto que tinha sido “malevolamente explorado”.
Assistimos hoje ao renascimento dos saudosistas da ordem e da autoridade, que nos anos trinta do século XX levaram ao poder regimes autocráticos e iliberais, dum homem só, ser providencial e messiânico.
Ontem com Hitler. Hoje com Putin e a sua aliada 5.ª coluna.
Protagonizada pela extrema-direita europeia.
Para além dos seus já fiéis apaniguados como Le Pen, Abascal, Salvini ou Örban, Putin já pode vir a contar com o Salvini na Itália, confesso admirador de Mussolini, e de Jimmie Akesson na Suécia seguidor convicto de Hitler. A estratégia imperial do novo Czar passa igualmente por estes colaboracionistas, traidores do projecto duma Europa Unida, Democrática e Liberal.
 

António Benjamim

Print

Categorias: Opinião

Tags:

Theme picker