27 de setembro de 2022

Opinião

Turismo ministerial!

Sabemos todos que os Açores estão, turisticamente, na moda. 
A paz com que, até há relativamente poucos anos, se contemplava as nossas idílicas paisagens, deixou de existir, por excesso de pessoas para espaços tão pequenos. É assim que acontece (citando apenas alguns) com a Vista do Rei, com a Lagoa do Fogo, com as Caldeiras das Furnas, com os miradouros do Nordeste, com o miradouro da Senhora da Paz, etc.
Pese embora os profissionais do sector dizerem que ainda temos margem para receber mais pessoas, penso que já chegámos à semi-massificação, por isso, há que ter muito cuidado com o que se tenciona fazer doravante. 
Mas, não é propriamente do turismo que qualquer pessoa faz, com o seu dinheiro, que quero abordar neste despretensioso trabalho. Quero falar, sim, do “turismo” feito por membros governo. Tem sido hábito dos vários governantes virem visitar estas paragens para, segundo eles, se porem a par dos problemas que nos afligem.
Ora, como todos sabemos, uma coisa é o que eles dizem durante a visita, e outra, bem diferente, é o que irão realmente fazer.
Por vezes, no âmbito da visita, até têm a ousadia de criticar algumas medidas tomadas pelas autoridades regionais, como foi o recente caso do senhor Ministro da Educação sobre a actualização da situação dos professores que cá exercem a sua profissão.
Na recente visita da senhora Ministra da Justiça, foi por ela anunciado, com aparente convicção, que se irão realizar várias obras e melhoramentos em equipamentos dependentes do seu ministério, com absoluta prioridade para as obras de beneficiação das cadeias de Horta e Ponta Delgada, e mais não sei onde. 
É caso para se dizer: senhora Ministra, de promessas estamos todos… não fartos, mas sim fartíssimos! Como Vossa Excelência reconheceu, a nova cadeia de Ponta Delgada, anda em “bolandas” desde 2008. Todavia, digo-lhe que aquela data não está correcta. Isto porque os problemas de sobrelotação da actual cadeia já tem mais de 20 anos. Bastará consultar os processos que penso existirem, onde devem estar arquivados os vários relatórios e exposições sobre as precárias condições de habitabilidade daquele estabelecimento prisional.
O “jogo do empurra” que se tem verificado com a construção da nova cadeia em S. Miguel, deve-se à incompetência dos vários serviços, tanto os do governo regional - que foi “oferecer” um terreno que não era seu - como os do governo central que não exigiram ao governo regional o comprovativo da posse daquele terreno.
O que acima escrevi não é novo, nem é segredo de estado. Esta matéria é do conhecimento público por já ter saído várias vezes na comunicação social, reportando declarações dos variadíssimos governantes que lá vão ver, no local, a miséria de instalações que ali estão. Para mim, esta visita da senhora Ministra da Justiça – assim como todas as outras realizadas por os vários “inspectores do cacimbo” que por aí aparecem -  foi mais uma visita turística do que outra coisa, para além de ter sido, também, uma afirmação de soberania. Quem manda na justiça é Portugal. Entendem?!
Mas, se formos analisar as viagens turísticas dos governantes adentro portas, ou seja, fazer turismo com o dinheiro do povo dos Açores, também há muito que se lhe diga.
Criou-se o hábito de que todos quantos vão para o governo regional devem fazer sempre um périplo pela diáspora.
Não há governo que se preze que não dê “uma voltinha” até lá fora; nomeadamente, ao Brasil, ao Canadá, às Bermudas, aos Estados Unidos e, porventura, outra qualquer que apareça de repente.
Atendendo a que a diáspora açoriana está muito espalhada naqueles países,  consequentemente, são muitas as visitas que fazem durante o mandato. Todas elas com a desculpa de irem em busca de investidores para os Açores, com resultados escassos, diga-se!
Realço aqui que, enquanto os “inspectores do cacimbo” viajam sozinhos, os nossos governantes parece terem medo de viajar sozinhos pelo que costumam a levar uma “embaixada” a acompanhá-los.
Paga Zé povinho!
P. S. - Texto escrito pela antiga grafia
25SET2022
Carlos Rezendes Cabral

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Categorias: Opinião

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