27 de setembro de 2022

Adriano Moreira - Português de excepção... Que ousou contraditar Salazar

 

Ficou célebre a sua resposta ao ditador, quando este não aceitando as reformas que Adriano Moreira se proponha levar a cabo nas colónias, o desafiava a alterá-las ou teria de mudar de Ministro do Ultramar. 
Resposta pronta e assertiva de Adriano Moreira:
“Vossa Excelência acaba de mudar de ministro”.
Crítico de Salazar por este não ter acompanhado os “ventos da história” a seguir à segunda guerra mundial, e ter devolvido Portugal ao convívio dos restantes países democráticos da Europa.
Se o tivesse feito, hoje não faltariam estátuas por todo o país a homenageá-lo.
Por outro lado, não deixa de elogiar a sua argúcia e criatividade ao ter “inventado” um instrumento jurídico, hoje inconcebível, o da “neutralidade/colaborante que livrou Portugal do drama da guerra.
 Adriano Moreira completou no passado dia 6 de setembro a provecta idade de 100 anos. 
Adriano José Alves Moreira nasceu no seio duma família humilde numa pequena aldeia do concelho de Macedo de Cavaleiros.
Fazem parte dos traços do seu carácter a humildade, o humanismo e a tolerância. 
Valores que o têm acompanhado ao longo de toda a sua intensa vida. 
É dele esta afirmação justificativa desta sua elevada postura ético-moral.
“A roda, o mundo em mudança, está sempre a girar, mas o eixo, que a acompanha, não muda. E o eixo são esses valores”.
Tem como referência personalidades ímpares, como Mandela, Gandhi, S. João Paulo II ou o Papa Francisco.
Tem admiradores em todas as áreas políticas, da esquerda à direita.
Católico, conservador de direita e Democrata Cristão, com um percurso político que o leva da oposição democrática a ministro de Salazar.
Conhece os curros do Aljube, onde se cruza com Mário Soares.
Pela simples razão de ter prestado assistência jurídica à família dum General oposicionista, entretanto falecido na prisão.
Como ministro do ultramar, apesar da pressão dos interesses instalados, concretiza algumas reformas audaciosas como o fim do trabalho forçado e a abolição da lei da expropriação de terras aos autóctones das colónias. 
Reformas que já Henrique Galvão tinha procurado concretizar sem sucesso, o que levou este incondicional apoiante do ditador, a passar-se para a oposição ao regime.  
Depois de abandonar a pasta de ministro de ultramar, Adriano Moreira não ocupará mais cargos no Estado Novo.
Dedica-se a uma prestigiada carreira académica na área da Ciência Política e dos Estudos Internacionais.
Depois do 25 de Abril, tem uma breve passagem pelo CDS, como seu presidente, num período muito difícil. Os seus companheiros elogiam-no o trato afável e o desapego ao poder.
Sempre tem defendido que a democracia e a tolerância, têm de começar no interior da família. 
Testemunha de tal postura é a sua filha Isabel Moreira, conhecida pelas posições fracturantes e da sua militância no partido socialista.
Sempre que questionada sobre a atitude do pai, reafirma que sempre a respeitou, incentivou e apoiou. 
Depois de abandonar a actividade partidária continua o seu percurso de investigador e professor.
 Autor de numerosos artigos científicos no país e no estrangeiro. Tem publicado inúmeros livros e manuais.
Tem mantido uma estreita relação e colaboração com a Universidade dos Açores, onde conta com muitos discípulos. Tendo orientado muitas teses de mestrado e doutoramento.
Destacar o seu manual de Ciência Política, obra central para todos os que se dedicam a esta área.  
Transmontano de “sete costados”, cedeu todo o seu espólio vasto e riquíssimo de livros, revistas, documentos e outras publicações à Biblioteca do Centro Cultural Municipal de Bragança, que passou a ter o seu nome.   
Não só se destina à fruição do público em geral como ficará ao dispor de jovens e investigadores.
Em junho foi agraciado pelo Presidente da República com a Grã-Cruz da Ordem de Camões.
No dia 6 de junho no Pavilhão do Conhecimento em Lisboa, foi alvo duma sentida e calorosa homenagem por todos aqueles que com ele privaram ao longo de cem anos.
Adriano Moreira é o político com maior longevidade na história de Portugal democrático. 
Contudo tem um percurso académico digno de registo, entre outras funções e distinções, destacam-se as seguintes: 
Doutor pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade Técnica de Lisboa, onde foi também Professor Catedrático, Director e Presidente do Conselho Científico;

Professor da Universidade Católica Portuguesa e do Instituto Superior Naval de Guerra;
Professor Honorário de várias Universidades portuguesas e estrangeiras;
Doutor Honoris Causa em diversas Universidades portuguesas e brasileiras.
Como estadista, foi ainda:
 Vice-Presidente da Assembleia da República (1991-1995);
Conselheiro de Estado (2015-2019).
Adriano Moreira, Português de Excepção, já com lugar de relevo na História da Pátria Lusa.
António Benjamim

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Categorias: Opinião

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