Ricardo Pacheco, o advogado que sempre ambicionou um dia ser Presidente do Clube Desportivo Santa Clara

Ricardo Pacheco, Presidente da Direcção do Presidente do Clube Desportivo Santa Clara. Eleito em Outubro do ano passado foi candidato a Secretário-geral da Direcção nas eleições anteriores para os órgãos sociais do clube, na lista encabeçada por Miguel Simas, que acabou derrotada pela de Rui Cordeiro.
Em 28 de Agosto, Rui Cordeiro demitiu-se de Presidente do clube e da SAD, por entender que não tinha condições para trabalhar com a novo Conselho de Administração da SAD, liderado por Ismael Uzun.
Curiosamente, passado todo este tempo, Ricardo Pacheco integra a SAD “encarnada”, que passou a ser detida pelo empresário Bruno Vicintin, ex-Vice-presidente do Cruzeiro, do Brasil, sendo que Klauss Câmara é o Director-executivo da SAD do Santa Clara.

Quem é quem?

Ricardo Nuno Amaral Duarte Pacheco, nasceu na Clínica Bom Jesus, em Ponta Delgada, há 50 anos atrás, onde aliás, a maioria das pessoas da sua geração nasciam, que na altura era administrado pelo saudoso Doutor Aníbal Furtado Lima, um dos médicos mais carismáticos dos Açores do Século XX.
Grande parte da infância de Ricardo Pacheco é vivida na Rua Doutor Armando Corte Rodrigues, onde o quintal da casa dos pais dava para o Campo de Jogos Marquês Jácome Correia. “Tive uma infância bastante feliz, a brincar na rua, a jogar à bola e a ir para a velha piscina de São Pedro, que nos deixa imensas saudades.
No Marquês Jácome Correia, cresci, olhando para o campo onde assisti a muitos jogos, entre eles, os famosos dérbis da ilha de São Miguel, mas também os empolgantes encontros entre o Santa Clara e o Lusitânia”.
Ricardo Pacheco revela a sua equipa sempre foi o Santa Clara, mas também confessa que assistiu a muitos jogos do União Micaelense e do Marítimo.

Xalim, o seu ídolo de infância

A este propósito, recorda com saudade os “fins-de-semana que passava a ver jogos no Jácome Correia”, relembrando o seu ídolo do futebol, “o guarda-redes Xalim, do Santa Clara, que hoje é um emigrante dos Estados Unidos da América”. Aliás, foi por causa do Xalim, que um dia Ricardo Pacheco estragou uma botas e umas cabeceiras à sua mãe, para tentar imitar os calções do Xalim. “Uma das coisas que tenho em mente é um dia poder levar uns calções dos nossos guarda-redes para oferecer ao Xalim, que é uma referência da minha juventude”.
Do seu percurso escolar, recorda as suas vivências escolares na Roberto Ivens e na Domingos Rebelo, mas principalmente na Escola Secundária Antero de Quental, que para si será sempre o Liceu.
Posteriormente foi para o continente estudar, para a Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, opção profissional que quis desde criança. Ricardo Pacheco teve sempre um enorme fascínio pela área da Justiça e da Política também, mas sobretudo pela área da Justiça.
Durante muitos anos esteve ligado a movimentos associativos fundando , inclusivamente, a Associação Ilhas em Movimento, que visa contribuir para a discussão de assuntos de natureza económica, política e social.

“Queria ser sócio, mas havia
outras prioridades ma família”

Ricardo Pacheco continua a ver os grandes jogos de futebol, mas recorda com muita nostalgia os grandes embates do passado no Campo Jácome Correia, “cheio de povo, com muita gente conhecida, muitas delas já não estão cá, infelizmente, pela lei da vida”.
Na Faculdade chegou a ver alguns jogos do emblema açoriano, quando o Santa Clara ia jogar no continente, mas não via todos, porque a vida de estudante universitária também não permitia.
Queria fazer-se sócio do Santa Clara, mas o seu pai não permitia, porque “havia outras prioridades na família”, mas quando regressa a São Miguel, já doutorado, associa-se ao clube, quando começa a trabalhar como advogado.
Passado todo este tempo, Ricardo Pacheco é eleito, em Outubro de 2021, Presidente da Direcção do Clube Desportivo Santa Clara, ambição que sempre teve. É preciso recordar, que para além de advogado de profissão, foi Secretário-geral e Vice-presidente do PSD/Açores. “Seria fácil dizer que nunca tive a ambição de um dia poder vir a ser Presidente da Direcção do Clube Desportivo Santa Clara, mas não. Já tinha tido esta conversa com o meu colega Eduardo Vieira, quando lhe disse que preferia ser Presidente do Santa Clara do que ser, por exemplo, um representante de uma Câmara Municipal ou do próprio Governo Regional, porque gosto do Santa Clara e sempre gostei”.

“Não tinha a noção da complexidade
dos problemas”

“Quando gostamos muito de uma equipa sofre-se com a equipa, mas quando se é, neste caso, Presidente do Clube e membro da SAD sofre-se mais ainda. Por outro lado, não tinha a noção da complexidade dos problemas, que uma equipa de uma Primeira Liga de futebol acarreta e é uma coisa absolutamente assustadora. Vinte e quatro horas num dia não chegam para se resolver todos os problemas, porque é muito assunto, desde o relvado, e depois é a máquina disto ou daquilo, as redes, a bola ou o técnico da formação que está doente, o formador que temos que contratar, ou seja, é um mundo absolutamente fantástico, mas muito complexo. Por outro lado, representar o Santa Clara para mim é um orgulho e uma alegria, porque é o meu clube”.
O Santa Clara é um clube eclético e do povo, que por vezes é prejudicado, inclusivamente por atletas. “Tivemos dois atletas no clube, que se tornaram pensionistas do Santa Clara. Mas honra seja feita, por exemplo, ao Floriano Machado, que teve uma gravíssima lesão com consequências ao longo de toda a sua vida, num ouvido, mas o que é certo é que o Floriano Machado nunca nos pediu nada. O que quero dizer com isto, é que o Santa Clara tem muita gente que vive e sofre pelo clube. O senhor Artur Pedro Cabral, que nos deixou, sócio número 1 do clube dizia, que «deste mundo não se leva nada, só se deixa o bem que se fez» e era um homem que produzia mel que depois distribuía pelos jogadores do Santa Clara, ou seja, há muita paixão por este clube”.

Ricardo Pacheco não esquece a importância dos emigrantes na vivência do Santa Clara, que segundo o mesmo, “reconhecem o Santa Clara como sendo a selecção dos Açores, porque usa a palavra Açores e aproxima os açorianos uns dos outros, espalhados pelo mundo”.
Na diáspora, inclusivamente, Ricardo Pacheco já presenciou a maneira como os emigrantes vivem os jogos do Santa Clara e o modo como esses emigrantes conseguem envolver muitos dos seus amigos que não são açorianos, mas que convivem com eles e a forma como vivem o Santa Clara e, o orgulho que têm de ver uma equipa açoriana a jogar seja com quem for na Primeira Liga, dá para ver que há ali sentimento, porque é um clube da terra deles a jogar”.

Mas até onde poderá ir este Santa Clara?

“Sou uma pessoa optimista e gosto de sonhar, mas vamos ser claros. O Santa Clara tem passado por coisas muito boas e outras muito más, e todos têm colaborado num sentido ou noutro, mas acredito, muito sinceramente, que se conseguirmos a manutenção na Primeira Liga, este ano, vamos crescer ainda mais.
Quando estes actuais administradores da SAD, liderados pelo empresário Bruno Vicintin, adquiriram o Santa Clara, tinham acabado de sair quase nove jogadores e a equipa estava muito alterada, e como disse o Presidente da SAD, este é o ano da reconstrução. Agora há uma coisa que me parece evidente, do contacto que tenho tido dos novos accionistas vejo uma capacidade financeira, mas sobretudo um modo de actuar que me deixa feliz e até muito tranquilo, no sentido do Santa Clara crescer. Acredito, muito sinceramente, que com a vontade dos novos accionistas, que estão a estabilizar a equipa, até do ponto de vista económico vejo alguém que deseja, em parceria com o clube, fazer a nossa instituição crescer. Agora, não há contos de fada no mundo do futebol e certamente que quem adquire a posição maioritária no Santa Clara quer rentabilizar o seu investimento, o que é perfeitamente compreensível e aconselhável, e o clube está aqui para os ajudar a rentabilizar o seu investimento, porque a vitória do Santa Clara será a vitória de todos. Eu acredito, muito sinceramente, que este clube vai valorizar-se imenso em vários quadrantes. A marca Santa Clara já é a marca mais importante dos Açores, que é algo de muito importante”.

Palavra “Açores”

O Presidente do Clube Desportivo Santa Clara abordou ainda a atribuição do apoio concedido pelo Governo Regional dos Açores ao clube açoriano através da palavra “Açores” nas camisolas. Mesmo assim, e apesar de continuar a ser o clube com mais apoio, o emblema açoriano recebe agora 900 mil euros, menos 100 mil euros do que no ano passado.
Acerca desta realidade, Ricardo Pacheco lamenta algumas opiniões que consideram este valor exorbitante. “Se as pessoas percebessem que o Santa Clara deixa nos cofres da Região quase três milhões de euros todos os anos, com o pagamento, por exemplo de impostos, significa que o Santa Clara paga muito mais, em termos de impostos do que aquilo que recebe. Se compararmos outros sectores económicos que são apoiados em dezenas de milhões de euros com apoios do Estado ou europeus, e se quantificarmos o valor de impostos que depois pagam e deixam na Região, se calhar vai assustar muita gente, para além de que, podemos somar todas as instituições açorianas, de Santa Maria ao Corvo, e concluir que não há nenhuma outra instituição que possa superar a visibilidade que o Santa Clara tem com a palavra ‘Açores’.
Outros exemplos, são as vendas de Morita e Lincoln, respectivamente ao Sporting e ao Fenerbahçe. Se as pessoas percebessem o que o Santa Clara pagará de impostos com a alienação destes dois jogadores, também perceberiam que o Santa Clara dá muito mais à Região do que aquilo que recebe”.

Camisolas esgotadas na loja oficial

Mais disse ainda, “que quem hoje for à loja do Santa Clara comprar uma camisola não vai vê-la, porque estão todas esgotadas. Os novos modelos estão todos esgotados e nós temos emigrantes que compram seis ou sete camisolas para oferecer, e tudo isto paga IVA. Lá está o tal imposto, que se calhar faz com que o apoio, que o Governo Regional nos dá e contrastando com aquilo que o Santa Clara devolve à Região, fará as pessoas pensarem de uma forma diferente. Para além do mais, parte deste apoio é gasto em viagens efectuadas de 15 em 15 dias através da SATA, e do mesmo modo, as equipas que depois vêm jogar aos Açores também vêm, por vezes, através da SATA e ficam nos nossos hotéis. Concluindo, o Santa Clara quer continuar a ser um parceiro da Região e quer crescer. Fico feliz com o empresário Bruno Vicintin, que tem como objectivo estabilizar administrativamente a equipa primeiro, para depois começar a trabalhar, melhorando a estrutura do clube para que possa ombrear com as principais equipas do futebol nacional, na parte de cima da tabela, e que possa ir, com alguma regularidade, às competições europeias. Não é fácil, ma é possível e acredito nesta estrutura”.
Sobre o plantel “os críticos são sempre os mesmos”, lamenta. “Os jogadores contratados, têm valor e quem perceber minimamente de futebol concordará. Temos, por exemplo, o Gabriel Silva, o Adriano Firmino, o Rildo ou o Victor Bobsin, jogadores que disputavam o principal escalão do futebol brasileiro. Nós já tivemos atletas, que se tornaram estrelas, que nem sequer eram titulares nas suas equipas no Brasil, mas trouxemos jogadores que eram titulares”.
Ricardo Pacheco recorda ainda que “uma equipa não se constrói de um dia para o outro e leva algum tempo”, mas reconhece, “sem sombra de dúvidas, que muitos dos jogadores do plantel serão alvo do interesse de outros clubes”.
                                    

 

                           

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Categorias: Desporto

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