António Silva é natural de Oliveira de Azeméis, mas cedo foi viver para a Cidade Invicta com os pais. Prestes a fazer 78 anos, o nosso interlocutor está aposentado, mas trabalha desde os oito anos de idade.
Quem já o conhece trata-o por Tony Silva, afável e divertido. Começou a trabalhar muito novo e queria ser serralheiro mecânico, mas o pai entusiasmou-o a ir trabalhar com o tio João, barbeiro, e assim foi.
Entretanto, um cunhado seu, que já estava há muitos anos a viver nos Açores, convidou-o para vir para São Miguel. Ao princípio não achou muita piada, porque assim não poderia ver o seu FC Porto jogar, mas acabou por vir, também, um pouco, por insistência desse seu familiar.
Passado todo esse tempo, Tony Silva está cá a viver há 40 anos, tendo aqui chegado no início dos anos 80. A sua filha é açoriana.
De início esteve um ano a trabalhar na Barbearia Gil, mas depois teve um espaço na Rua do Contador, onde esteve durante 32 anos, antes de passar para local onde actualmente tem a Barbearia Porto, na Rua Carvalho Araújo, n.º 32.
Habituado a outro ritmo
Tony Silva estava habituado a um ritmo de trabalho diferente daquele que veio encontrar em Ponta Delgada. No Porto trabalhou “no Salão Amir, conjuntamente com outros 11 empregados e trabalhava-se de manhã à noite, sem parar”, releva.
“Cheguei aqui, falei com o senhor Travassos, que me deu trabalho na Barbearia Gil, mas no primeiro dia assustei-me, porque havia uma fila enorme de pessoas para cortar o cabelo”.
“Cortava-se o cabelo e pronto, não havia sequer tempo para lavar, mas habituei-lhes. E depois, claro, o trabalho era demasiado, trabalhava-se diferente e não havia tesoura para desbastar, que como se sabe, é uma óptima ferramenta para um bom corte de cabelo”, acrescenta.
Da Rua do Contador
para a Rua Carvalho Araújo
“O irmão da minha senhoria era muito meu amigo, mas infelizmente já faleceu. Eles eram naturais de Santa Maria, e esse meu amigo fazia questão que um dia viesse para aqui, para este espaço. Entretanto, faleceu há alguns anos e mal sabia ele que um dia vinha para aqui, e já cá estou há sete anos”.
O nosso entrevistado tem uma grande capacidade de lidar com problemas e nem o facto de já ter sido operado ao coração demoveu-o da capacidade de superar obstáculos. “Foram tempos difíceis, mas isto melhorou e tive de vir trabalhar, porque a minha mulher não trabalha e está à espera de ser operada a uma anca. Sou o único ganha-pão lá de casa, a minha reforma é baixa e tenho de trabalhar para fazer face às despesas”.
Clientes antigos e novos
Com 40 anos de actividade em São Miguel, Tony Silva mantém antigos e novos clientes. “Tenho aqui clientes de há 40 anos, mas particularmente um, que é o mais antigo, Manuel Arruda, Presidente da Direcção do Clube União Micaelense”.
Mais ainda, Tony Silva, barbeiro old school continua a ser fiel a muitos outros clientes, com mais idade, que por diversos motivos já não podem sair de casa. “Nesta vida temos de ser leais e é uma forma de agradecimento ao cliente pela confiança e preferência”.
Por outro lado, e embora não goste muito de o dizer, “porque há pessoas que deturpam, mas grandes personalidades desta ilha que eram e são seus clientes”.
E porque gostos não se discutem, os seus clientes preferem “The Old Cut”, que traduzido à letra significa “O Velho Corte”, mas não se engane, já que muita malta nova também vai à Barbearia Porto.
Um corte de cabelo custa 12 Euros, um preço acessível, tendo em conta outros preços que são praticados noutros espaços.
Num corte clássico na Barbearia Porto, Tony Silva usa “tesoura, navalha e depois, se for preciso, um pouco de máquina nos lados”.
Com quase 78 anos de idade, diz que vai trabalhar até aos 80 anos, mas depois vai pedir um ano de cada vez”.
Em jeito de curiosidade, e porque no início desta reportagem mencionamos que Tony Silva é um ferrenho adepto do FC Porto, e sabendo do nosso justo fair-play, fez questão de nos mostrar uma bola autografada pelos jogadores, que na temporada de 1996/1997 fizeram parte do plantel, então orientado por António Oliveira, onde surgem nomes, como João Pinto, Aloísio, Jorge Costa, Mário Jardel, Fernando Mendes, Rui Barros, entre outros e, imagine-se, Sérgio Conceição, o actual treinador dos “azuis e brancos”.