Músico e compositor açoriano vive nos EUA e luta contra um cancro que lhe atrasa os planos de regressar de vez aos Açores

Manuel Furtado Cabral regressou a São Miguel para dar um concerto no Teatro Ribeiragrandense. Regularmente regressa à sua terra natal, tendo actuado em Novembro do ano passado, no Coliseu Micaelense.
O nosso interlocutor saiu de São Miguel quando ainda era jovem. Natural da freguesia de São José, não esquece a casa onde nasceu: “Bairro da Misericórdia, n.º 25”. Contudo, os pais e irmãos são naturais da freguesia do Porto Formoso. A determinada altura o pai veio para Ponta Delgada trabalhar como enfermeiro e Manuel Furtado Cabral e os seus irmãos vivenciam grande parte da infância no Bairro da Misericórdia.
Ingressa no Clube União Micaelense, seu clube do coração, onde a determinada altura, numa digressão aos Estados Unidos da América vê a “terra do Tio Sam” como potencial para viver, acabando por lá ficar. “Já lá estou desde os anos 80, ou seja, há cerca de 42 anos”.
De início ficou um ano ou dois sem cá vir, mas depois deste interregno regressa a São Miguel regularmente. “A ilha chama-me, de tal forma que ultimamente regresso três ou quatro vezes por ano”.
Radicado na diáspora açoriana e vivendo em Massachusetts, a uma hora de distância de Boston e a 15 minutos de Fall River, a popularidade do músico e compositor açoriano atravessa fronteiras e continentes, tendo actuado nas mais diversas cidades do continente norte-americano, como Toronto, New Jersey, New York ou Philadelphia.
Com quatro trabalhos já editados no seu percurso como músico e compositor, “Manel, The Island Man” tem também apresentado os seus projectos em Portugal, com actuações em Lisboa, Porto, Vizela e noutras regiões do país, também a convite da Rádio e Televisão de Portugal (RTP).

Novo vídeo “América”

A propósito de novos projectos, o músico revelou ao nosso jornal que está a preparar o lançamento de um novo vídeo, intitulado “América”, gravado em Nova Iorque, Boston e Massachusetts, pretendendo “retratar a América e o que são os verdadeiros americanos”.
Não raras vezes, as suas composições musicais falam sobre amor, liberdade ou democracia. “São temas actuais, os quais tento retratar sentimentos, através da música”.
Nesta agradável conversa com Manuel Furtado Cabral, o nosso entrevistado releva “a simpatia dos norte-americanos para com a comunidade portuguesa e açoriana em particular”, constatando um grande número de emigrantes a residir, principalmente em Fall River e New Bedford. “De início nem sempre foi assim e havia alguma xenofobia”, recorda.
“Hoje em dia a diáspora açoriana e comunidade portuguesa é respeitada no país, onde os produtos açorianos fazem furor e são muito procurados”. Manuel Furtado Cabral aponta, por exemplo ainda o comércio em Fall River, a maior parte de portugueses, exemplificando a título de exemplo, o “Portugalia Marketplace” do seu amigo Fernando Benevides, natural da freguesia da Candelária, gerido pelo filho Michael Benevides. “Repleto de queijos, frutos do mar e outras guloseimas, quando lá entramos pensamos mesmo que estamos em Portugal. Emprega muita gente, mais de meia centena de colaboradores, com destaque para a secção do bacalhau, onde até a maior parte dos clientes são norte-americanos”.

Linfoma atrasa plano de regresso

Manuel Furtado Cabral já tem casa no Porto Formoso e não enjeita a oportunidade de regressar em definitivo, até porque já tem netas cá a residir. No entanto, tem atrasado essa sua pretensão, porque foi-lhe diagnosticado um linfoma, termo usado para designar vários tipos de câncer que se originam nos linfócitos, células indispensáveis ao sistema imunológico. “A doença foi-me diagnosticada há 20 anos atrás, mas faço tratamento uma vez por semana, cerca de 10 horas de quimioterapia e tem sido uma luta. Não tem cura, mas continuo a lutar contra ela e sujeitei-me a transplante de medula óssea”.
Instado a comentar como consegue encarar com esta realidade, não hesitou em responder que “é uma pessoa optimista e desistir é uma palavra que não cabe no seu dicionário”. Aliás, uma das suas músicas «Alive» espelha bem o sentimento de continuar a lutar pela vida, assim como o tema «When I’m Gone», concluído após uma das sessões de quimioterapia. “Deitado no quarto, e na sala ao lado, estava um casal onde marido dizia à esposa: «Que luta, estamos a ter (…), mas olha, quando partir, amar-te-ei sempre e estarei sempre aqui!». Achei um bom tema, deixando de lado as tristezas, porque temos de encarar a realidade sempre com a esperança que haverá um amanhã, melhor do que foi o dia de ontem”.
Depois de “D’ alma”, “Um Dia de Cada Vez”, “Learning to Fly” “My Beautiful World”, Manuel Furtado Cabral prepara o lançamento de um novo CD, intitulado “Mar Azul”, um trabalho concretizado em conjunto com a banda  The Code.
Aliás, grande parte do novo trabalho do cantor e compositor foi apresentado no concerto intimista que teve lugar ontem, no Teatro Ribeiragrandense.
São membros da banda Pedro Silva - baixo, Bárbara Azevedo - piano, Álvaro Carreiro – guitarra, Nuno Tavares – bateria, Luís Viveiros – violino e Rui Faúlha – trompete.
Uma surpresa de última hora ficou guardada para o dia do espectáculo, já que subiram ao palco Marisa Oliveira e Félix Medeiros, dos The Code, assim como o músico e compositor João Moniz.
 

 

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