Estudo de investigadores do CIIMAR

Microorganismos encontrados no mar profundo a Sul dos Açores podem ajudar na recuperação de ecossistemas contaminados

Há microorganismos no mar profundo, encontrados na Dorsal Meso-Atlântica, a Sul dos Açores, que se mostraram capazes de degradar hidrocarbonetos de petróleo e, por consequência, têm potencialidades na recuperação de ecossistemas contaminados.
O estudo, intitulado “Diversidade e Potencial de Degradação de Hidrocarbonetos do Mar Profundo Comunidade Microbiana da Dorsal Medio-Atlântica, Sul de Açores (Oceano Atlântico Norte)”, foi publicado na revista científica Microorganisms, e é da responsabilidade de investigadores do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental (CIIMAR) sendo Maria Paola Tomasino, a primeira autora do estudo.
De acordo com o estudo, facultado pelos investigadores do CIIMAR ao Correio dos Açores, as amostras foram recolhidas no mar profundo, em 2016, aquando da campanha oceanográfica a bordo do navio de investigação da Marinha Portuguesa NRP Almirante Gago Coutinho. Os investigadores do grupo “Bioremediation and Ecosystems Functioning” do CIIMAR, fizeram uma experiência durante 15 dias em que usaram as quatro amostras recolhidas “como ferramentas biotecnológicas para biorremediação de ambientes poluídos por hidrocarbonetos de petróleo”. Ou seja, a forma como se usam microorganismos para “remediar”, reduzir ou remover contaminações no ambiente.
Os investigadores referem que os sedimentos do fundo do mar “são um dos maiores biótopos da Terra e hospedam uma surpreendente comunidade microbiana diversificada”, e por isso investigaram a “sua diversidade microbiana autóctone”. Nestes sedimentos do fundo do mar os investigadores conseguiram encontrar 26 estirpes de bactérias “com a capacidade de usar petróleo bruto como única fonte de carbono e energia”. Destas, oito foram “seleccionadas para um novo consórcio microbiano hidrocarbonoclástico para se testar o seu potencial para degradar hidrocarbonetos de petróleo”, actuando como biorremediação.
A experiência consistiu em aplicar um microcosmos em escala de laboratório, enriquecido com petróleo, para simular um derramamento deste poluente em águas marinhas naturais, tendo sido comparados com a atenuação natural, de um local onde “as duras condições deste ambiente frio diminuem a taxa de atenuação, permitindo que os poluentes do petróleo persistam por muito tempo em sedimentos marinhos profundos levantando preocupações ambientais”.

Biorremediação
De acordo com o estudo dos investigadores do CIIMAR, desde o primeiro dia que os três tratamentos de biorremediação - bioestimulação, bioaumentação com inóculo pré-cultivado em petróleo e bioaumentação com inóculo pré-cultivado em acetato - e a atenuação natural mostraram visualmente “uma clara separação entre a mancha de óleo e o meio”. Já ao fim dos 15 dias de experiência, “é facilmente perceptível que a degradação do petróleo bruto ocorreu em todos os tratamentos, excepto na atenuação natural”, assim como o aumento da turvação e formação de gotas de petróleo no fundo e dispersão do petróleo na superfície.
Quanto aos microorganismos com capacidade para degradar os hidrocarbonetos, os resultados mostram que no início da experiência os resultados “estavam abaixo dos limites de detecção tanto para atenuação natural como da bioestimulação”. Mas após 15 dias da experiência, a abundância destes microorganismos aumentou, “concordando com os resultados observados pela inspecção visual dos frascos, confirmando que a comunidade microbiana tinha potencial de biorremediação e utilizou petróleo bruto como fonte de carbono para o crescimento”. Resultados que “foram muito maiores nos tratamentos de bioaumentação, seguidos do tratamento de bioestimulação, quando comparados com a atenuação natural”, pode ler-se no estudo publicado.
A degradação de hidrocarbonetos foi estimada mas “não foram observadas diferenças significativas entre os tratamentos, embora tenha sido observada uma tendência de menor degradação na atenuação natural (18%), seguida do tratamento de bioestimulação (21%). O bioaumento com inóculo pré-cultivado em petróleo e bioaumentação com inóculo pré-cultivado em acetato apresentaram as maiores taxas de degradação, 23% e 30%, respectivamente”, refere o estudo avançando que estes microorganismos conseguiram reduzir em 30% a quantidade de contaminação.
Alguns destes microorganismos encontrados aparecem “numa longa cauda de organismos raros” – conhecidos como “biosfera rara” – com uma abundância inferior a 1%, mas que podem servir como “banco de sementes” depositados nos sedimentos do mar profundo. Organismos que “podem aumentar em abundância relativa” e tornarem-se “activos” em resposta a perturbações ambientais, como um derramamento de óleo.
O estudo, liderado pela investigadora Maria Paola Tomasino, revela que a experiência de biorremediação “permitiu mostrar claramente o potencial de comunidades microbianas naturais presentes em sedimentos de águas profundas para aplicações de biorremediação”, indicando que elas podem interagir e sobreviver em meios naturais contaminados com petróleo.
Carla Dias

 

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Autor: Carla Dias

Categorias: Regional

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